Friday, December 26, 2008

Natal ao contrário

Este foi o primeiro Natal que passei sem ser em casa dos meus pais. Estou em casa do pai da Jennifer, na Pensilvânia, naquilo a que o meu irmão chama de «América profunda», mas que, se calhar, é melhor chamar de «América semi-profunda» já que basta comparar isto com o Texas ou o Kentucky, por exemplo, para perceber que há profundezas bem mais profundas do que a Pensilvânia nos EUA.

Seja como for, e apesar de, como sabem, eu não ser grande apreciador desta quadra, devo admitir que passar o Natal fora de casa é uma experiência algo estranha. Parece que está tudo errado, que não é assim que se faz. E não é por estar noutro país que digo isto. Tenho a certeza que se estivesse em Portugal, mas noutra casa que não a minha, teria a mesma sensação. Desde que os rituais seguidos não sejam aqueles com que cresci - abrir as prendas na véspera de Natal, fazer depois a ceia à meia-noite e tudo isso - parece que o Natal está ao contrário.

Friday, December 12, 2008

Voluntariado à minha medida

Já há algum tempo que eu sabia que me devia voluntariar para alguma coisa. Sentia uma vontade de fazer algo de útil, mas sabia também que não me apetecia dar de comer a pobres, tratar de doentes em hospitais ou fazer companhia a idosos em lares de terceira idade - tudo actividades extremamente meritosas, como é evidente, mas para as quais eu não tenho grande inclinação por me faltar altruismo e bondade em doses suficientes.

Até que, há coisa de dois meses atrás, encontrei uma oportunidade de voluntariado que parecia feita à minha medida. Era para trabalhar numa estação de televisão de cariz não-lucrativo cuja missão é dar exposição a outras culturas e outras maneiras de ver o mundo, um objectivo que, não sendo tão imediato e urgente como dar de comer a pobres, ajudar doentes em hospitais ou fazer companhia a idosos em lares de terceira, não deixa de ter o seu quê de meritório.

A estação chama-se Link TV e tem um site na internet (ver aqui), bastante bem organizado e apelativo por sinal, onde se pode começar a perceber qual a sua orientação editorial. Nesta estação pode ver-se, por exemplo, compactos de serviços noticiosos de países islâmicos onde assuntos como a guerra no Iraque são apresentados sob o ponto de vista do outro lado do conflito, filmes produzidos em várias partes do mundo, programas de debate independente sobre as questões que afectam o planeta, rubricas sobre globalização, ecologia ou minorias étnicas e documentários significativos que abordam temas internacionais de relevo, que podem ir desde o genocídio no Darfur até ao poder das grandes corporações na economia mundial, passando pela luta dos monges tibetanos contra o império chinês ou pela devastação da Amazónia.

Foi, acima de tudo, esta última componente que me convenceu. Sempre fui grande apreciador de cinema documental e, juntando os benefícios pessoais que poderia retirar da experiência de trabalhar numa estação de televisão (se bem que de dimensões muito reduzidas) com a missão positiva e louvável deste canal em concreto, não podia deixar de tentar perseguir esta oportunidade.

Enviei o currículo, fui a uma entrevista e comecei a trabalhar na segunda-feira seguinte. Desde então, tenho lá ido todas as segundas e quintas à tarde. Comecei a fazer entradas numa base de dados (actividade fastidiosa que, contudo, até fiz de boa vontade porque era uma coisa em que não precisava de pensar muito - uma diferença relaxante em relação ao meu emprego propriamente dito) e, agora, passado um mês e meio, passei a fazer visionamento e crítica de documentários, com o objectivo de avaliar a sua qualidade para emissão. Não sei quanto tempo vou lá ficar, se me vou fartar daquilo depressa ou nem por isso, mas, por enquanto, está a ser uma experiência muito positiva.

Friday, November 28, 2008

Jantar de Thanksgiving - Epílogo

E pronto: estava tudo deveras saboroso (excepção feita àquela cena de feijão verde, é claro). O problema agora é que temos aqui peru para jantar pelos menos durante uma semana e meia.

Thursday, November 27, 2008

Jantar de Thanksgiving - Prólogo

Hoje é Thanksgiving. Ao contrário do ano passado, em que fomos a casa dos pais da Jennifer, desta feita decidimos ficar por NY e preparar o nosso próprio perú. Nenhum de nós estava com pachorra para enfrentar sete ou oito horas de carro em cada sentido e, sendo assim, preferimos dispender a tarde de hoje a preparar o jantar. Ainda é meio-dia e o peru ainda está a descongelar, mas eis a ementa prevista para mais logo:

- Peru com recheio aromatizado com tomilho e salva
- Puré de batata
- Tarte de batata doce
- Caçarola de feijão verde (eu, por mim, nem toco nisto; é mais para a Jennifer)
- Pão quente
- Azeitonas (daquelas grandes e gordas que se compram ao peso)
- Vinho branco (um Bordeaux e um Riesling)
- Cheesecake de chocolate

Se depois do jantar ainda me conseguir levantar da cadeira, venho aqui fazer um balanço das festividades (mas tenho a impressão que vai difícil).

Sunday, November 16, 2008

Olhe que assim ainda me deixa corado

Recebi a nota de mais um paper no meu curso de cinema. Desta feita, foi uma análise ao «Blow-Up» do Michelangelo Antonioni, um filme que, ao contrário daquilo que aconteceu com o «Weekend» do Jean-Luc Godard, obra que detestei quando vi e continuei a detestar depois de concluído o trabalho, acabei por dar muito mais valor depois de a analisar em detalhe e perceber melhor o que o realizador estava a tentar fazer. Mesmo assim, não aconselho este filme a quem não tiver algumas horas para matutar naquilo, porque, caso contrário, nada vai fazer grande sentido (é curioso que, depois de ver estes filmes supostamente mais artísticos, uma das coisas que este curso me está a provocar é saudades de ver um blockbusterzinho, para dizer a verdade).

Tive outro excelent, mas, mais do que a nota propriamente dita, até porque, por aquilo que pude ver pelos meus colegas que estavam ali à volta, toda a gente teve excelente (sim: não pensem que eu tenho notas dessas por ser um aluno extraordinário, ou isso), a observação que a professora me deixou agradou-me bem mais: «nice writing», escreveu ela, confirmando depois o panegírico com um ponto de exclamação bem enfático. Foi o primeiro elogio à minha escrita em inglês (tirando os da Jennifer, é claro, mas isso não conta), circunstância que me deixou bastante satisfeito e quase me fez esquecer que, para conseguir redigir um texto decente numa língua que não é a minha, demorei um fim-de-semana inteiro a escrever três páginas.

Monday, November 10, 2008

Eu só gostava de ter metade da piada que ele tem

Ontem fui com a Jennifer ao Lincoln Center assistir a um espectáculo do Brian Regan, aquele que é, talvez, o melhor stand-up comedian da actualidade aqui nos Estados Unidos. Custou-me os olhos da cara, mas valeu bem a pena, que mais não seja para ver como é possível fazer humor brilhante a partir das coisas mais simples e mundanas. Aqui fica uma pequena amostra de um sequência em que ele fala de idas ao médico.

Tuesday, November 4, 2008

Yes, we did!

After 8 LONG years, we finally got our country back!!!
Ok, Europe, you can stop making fun of us now.

E não é que ele ganhou mesmo?

Todos os dias, para escrever o «Memória de Elefante», tenho de ler listas e listas com as efemérides mais importantes da História. Hoje, ao assistir o desenrolar das eleições aqui nos Estados Unidos, tive a plena consciência de que estava a ser criada mais uma dessas efemérides. É um grande exemplo para todo o mundo, mas, agora que o Obama finalmente ganhou, estou nervoso: se ele faz merda e não muda isto tudo para melhor, é capaz de ser uma das maiores desilusões da minha vida.

Saturday, November 1, 2008

Nem trick, nem treat

Mais um Halloween, e, de novo, não me bateu ninguém à porta a dizer «trick or treat». Já escrevi aqui no ano passado que, para mim, isto é a queda de um mito, mas, este ano, vou ainda mais longe e digo que, apesar de o terem inventado, os americanos não percebem nada de Halloween.

Toda a gente sabe que uma boa máscara de Halloween deve ser aterradora. Monstros, fantasmas, Josés Castelos Brancos, enfim, qualquer coisa que nos faça gritar de horror, mas os americanos parecem ter-se esquecido disso. Vi meia dúzia de crianças com aquela máscara do assassino do «Scream», dois ou três esqueletos fluorescentes, uma múmia e um Frankestein (ou então era um puto feio como o raio), mas nada que se compare com a quantidade de fadas, carochinhas, super-homens, piratas e outros disfarces completamente fora de época que por aqui andavam (e já nem sequer estou a contar com a quantidade exorbitante de Harry Potters, já que, não se tratando de uma personagem verdadeiramente monstruosa, uma máscara de Harry Potter acaba por ter uma componente assustadora, que mais não seja porque, para algumas franjas mais conservadoras da sociedade, deve ser realmente assustador que um puto se queira vestir de feiticeiro panasca).

Isto, claro, no que diz respeito a crianças. Passando agora para os adultos, a tendência para subvalorizar a componente assustadora do Halloween é igualmente visível, como pude confirmar ontem na festa para que fui convidado. Os homens apresentaram-se com disfarces absolutamente descabidos, que iam desde jogadores de hóquei no gelo a Jesuses Cristos, passando por chulos, senadores romanos e arqueólogos britânicos no Egipto; as mulheres, e apesar de haver muita bruxa, sem dúvida, também puseram de parte, na sua grande maioria, a vontade de aterrorizar e, bem pelo contrário, preferiram mais uma vez aproveitar a data para deixarem de parte as suas repressões mais profundas e abandonarem as convenções sociais no que a decência de vestuário dizem a respeito. Por mim, tudo bem, é evidente, nada contra, mas vamos lá a ser sinceros: se uma naughty nurse ainda pode assustadora porque não é por ter uma mini-saia até ao umbigo que nos deixa de dar uma injecção, se for preciso, «Ahhhh! Que horror! Que grande susto que me pregaste!» não é propriamente a primeira coisa que vem à mente de uma pessoa quando vê uma slutty housekeeper ou uma sexy catwoman.

Wednesday, October 22, 2008

TPC

Hoje, na aula de cinema, recebi a nota do meu primeiro paper à americana. Era uma análise a um filme do Jean-Luc Godard (uma enormíssica seca, por sinal, que, apesar de ser considerada uma obra-prima, não aconselho a ninguém a não ser a cinéfilos pretensiosos e a pseudo-intelectuais). Estava com receio, admito, porque ainda tenho grandes dificuldades em escrever em inglês, mas, com a ajuda indispensável do corrector ortográfico do Word, com idas frequentes a dicionários de sinónimos na internet e com a preciosa revisão da Jennifer, a coisa até correu bastante bem e a verdade é que tive um Excelent. Fiquei um bocado desiludido, por acaso. Queria que a professora tivesse utilizado letras para dar as notas. Queria ter tido um «A». «Excelentes» já tive vários. «100%'s», também. «A's» é que nunca tive nenhum.

Sunday, October 19, 2008

Há determinado tipo de coisas que são iguais em qualquer parte do mundo

Não sei bem o que nos passou pela cabeça, mas ontem decidimos ir ao Oyster Festival, algures numa pequena cidade a três quartos de hora daqui. É claro que, mal lá chegámos, apercebemo-nos do erro. Quer estejamos a falar do Festival do Marisco de Olhão, da Semana do Chicharro da Ribeira Quente ou do Festival da Ostra de Long Island, este tipo de eventos resume-se ao mesmo: famílias, javardice e chavascal, com a diferença de, neste caso, não haver uma banda de covers a tocar o «Apita o Comboio», mas sim um grupo a tocar música country.

Mas nem tudo foi desperdício de tempo. Apesar de não termos lá ficado mais de dez minutos e de nem sequer termos comido uma ostrazinha que fosse (as filas eram intermináveis), andei pela primeira vez num autêntico school bus americano, daqueles amarelos e tudo, já que o transporte de e para os parques de estacionamento era assegurado por autocarros desses. Foi mais uma experiência cultural concretizada. Só me falta agora dormir numa daqueles camas de motel que fazem massagens.

Sunday, October 12, 2008

What Americans don't have

Dear President Bush,
Over the summer, I traveled to a small island called Sao Miguel. You will not believe what I discovered. President, they have a lot of shit that we don't have. I think that it is time that Americans have all the same shit that Azoreans have. Let's bring light to this issue during the final weeks of the campaign. See the picture below to find out what shit I am talking about. We need your help President Bush. Give us this shit!!
Sincerely,
Jennifer(Fellow American)

Thursday, October 9, 2008

Quarta à noite em casa

Ontem não tive aula de Cinema porque hoje é Yom Kippur, um feriado judeu, e é com alguma pena que admito que até curti não ter de ir à universidade. Estou algo desiludido com o curso, principalmente porque a minha professora é uma seca. Fala tão baixo que mal a consigo, não sabe muito bem do que está a falar, não se consegue explicar bem e é um pouco desorganizada. Para além disso, esta primeira cadeira é algo básica e, pelo menos até agora, muito do que lá se trata é coincidente com aquilo que aprendi no curso de fotografia.

Todavia, é evidente que sempre tenho aprendido alguma e, que mais não seja, tenho visto clips de filmes e de realizadores sobre os quais nunca tinha ouvido falar. Na verdade, as aulas não passam disso mesmo: a professora engasga-se durante cinco minutos a dizer qualquer coisa e, depois, passa clips que supostamente demonstram e exemplificam o que ela acabou de dizer. Grande trabalho, hein? Dar aulas assim, também eu.

Espero que a próxima cadeira do curso corra melhor. Esta, a manter-se assim, será dinheiro mais ou menos desperdiçado.

Wednesday, September 24, 2008

Desta vez, o Bush não ganha, de certeza absoluta

Tenho seguido com enorme atenção e curiosidade (talvez até demasiadas) a campanha eleitoral aqui nos Estados Unidos. Vejo as entrevistas, oiço os comentários, assisti às transmissões das convenções Democrata e Republicana e tenho a televisão invariavelmente ligada num canal de notícias ou na Comedy Central, onde programas como o «Daily Show» ou o «Colbert Report» acabam por ser também bons barómetros do que se está a passar por aqui.

Estou, de certa maneira, obcecado por esta campanha, não só pela componente política propriamente dita, mas também, se calhar até mais, pela janela de conhecimento que ela abre sobre a sociedade americana. É fascinante assistir às máquinas de propaganda de um lado e de outro em funcionamento (as jogadas que tenho visto nesta campanha fazem com que a política portuguesa pareça brincadeira de crianças), mas, para mim, é ainda mais interessante perceber como os americanos pensam e quais as suas motivações.

Nunca fui anti-americano. Também nunca fui pró-americano. Para mim, os americanos são como outro povo qualquer: há deles bons e inteligentes, e há deles maus e burros, e, por isso, irrita-me um bocado aqueles que dizem que os americanos são isto e aquilo quando, ponto um, generalizações dessas são completamente absurdas, estejamos nós a falar de americanos, de árabes ou de aborígenes australianos, e, ponto dois, generalizações dessas são ainda mais absurdas quando está em causa um país do tamanho deste tamanho e diversidade.

A realidade é que existem duas américas completamente distintas, e basta olhar para o mapa eleitoral para perceber isso mesmo: as costas Este e Oeste e os grandes centros urbanos, onde mais cidadãos têm formação académica e onde existe um maior intercâmbio cultural e étnico, votam democrata; o centro e o Sul, mais conservadores, mais religiosos e mais ligados à pátria e a família, votam republicano. Não quer isto dizer que os primeiros sejam esclarecidos e os segundos ignorantes; apenas que, por razões históricas, geográficas e culturais, têm valores diferentes e olham para o mundo de formas diametralmente opostas, mas igualmente dignas de respeito. Acho errado considerar que, só porque alguém partilha de valores que não têm nada a ver com os meus, é burro ou ignorante, até porque isso faria de mim alguém com a pretensão de ser o dono da verdade absoluta, traço de carácter que, nesse caso, teria em comum com personalidades como Hitler ou até José Mourinho.

Olhando para o mapa dos Estados Unidos, também se percebe que a middle America é mesmo, e por larga diferença, a maior porção territorial do país e que, sendo assim, é normal que os republicanos acabem quase sempre por ganhar as eleições. É um facto, mas também é verdade que, dadas as particularidades do sistema eleitoral norte-americano, a coisa não é assim tão simples, já que o presidente não é eleito de modo directo. O vencedor das eleições em cada estado arrecada o número de representantes a que esse estado tem direito no electoral college, quer esse candidato tenha ganho com 100% dos votos, quer tenha obtido apenas 50,1%. E aqui é que a questão se complica, porque enquanto que a California tem direito a 51 desses votos e Nova Iorque a 31, estados como Delaware ou North Dakota apenas têm direito a 3. É evidente que o total de electoral votes atribuídos a cada estado está relacionado com o seu tamanho, número de habitantes e outros factores do género, mas, mesmo assim, este sistema faz com que, como aconteceu naquela eleição em que o Bush venceu o Al Gore, seja possível ganhar as eleições, sem ser o mais votado no total do país (por exemplo, um dos candidatos pode ganhar com 100% dos votos em dez estados mais pequenos, mas, se o outro vencer com 50,1% dos votos na California fica com mais electoral votes, porque arrebata todos 51 deste estado).

Isto implica que, no fundo, as eleições se decidam em apenas quatro ou cinco estados, os chamados battleground states, ou seja, aqueles que não votam de certeza absoluta num ou noutro partido (como pode ser visto aqui), reduzindo a sondagens nacionais a meros indicadores de tendência com pouca relevância, já que cada estado é como um pequeno país, com as suas especificidades, necessidades e problemas.

Sunday, September 14, 2008

É tudo uma questão de desejar aquilo que não se tem

No fim-de-semana passado fui assistir à gravação de um especial de stand-up comedy para a Comedy Central. Depois, uns dias mais tarde, numa rua a uns quatro ou cinco quarteirões da minha casa, vi uma equipa de técnicos a arrumar aquilo que tinha sido o set de um filme ou de uma série de televisão (aqui em Astoria está localizado um dos maiores estúdios de Nova Iorque, o Kaufman Studios, onde se filma grande parte das séries e filmes produzidos em NY e, por isso, é natural que alguns exteriores neutros sejam feitos nas redondezas).

Estas duas situações, em que me cruzei de relance com câmaras, cabos e holofotes, fizeram-me ter algumas saudades dos tempos em que fazia parte dos bastidores de produções televisivas. É claro que, enquanto guionista e, portanto, sem intervenção directa no desenrolar de muitas das componentes de uma filmagem, muitas vezes ficava horas e horas à espera que algum problema técnico fosse resolvido, ou que alguma questão de produção fosse desbloqueada, ou que a cena ficasse ao gosto do realizador, e que, por isso mesmo, se voltasse agora a uma gravação, o mais certo era acabar aos suspiros de tédio e aos desabafos de impaciência, mas, tal como as câmaras, os cabos e os holofotes, acabo também por ter saudades desses suspiros e desses desabafos. Também fazem parte da mística.

Saturday, September 6, 2008

O Juvenal (o poeta romano, mais concretamente; não outro Juvenal qualquer) ia ficar orgulhoso

Naquilo que se pode entender como uma semana dedicada à busca do ambicionado binómio «mente sã em corpo são», e depois de, como já referi no post anterior, ter reflectido a vontade de conseguir um corpore sano, ou, pelo menos, mais sano do que aquele que possuo nesta altura da minha vida, na decisão de me inscrever num ginásio, facto que, aliás, suscitou um misto de reacções de espanto, incredulidade, e apoio que - já agora, admito - me deixou reconfortado porque revelou que tenho amigos que me conhecem bem e que sabem que, por um lado, é mesmo espantoso que, após anos e anos de completo sedentarismo, me tenha decidido dar que fazer a músculos do meu corpo que não recebiam estímulos há décadas, por outro, e talvez pela mesma razão, se mantêm incrédulos perante a minha intenção de, agora que a inscrição está feita, ir ao ginásio com a frequência desejável, e, por último, sabem que realmente deixarei de ir sem o necessário e indispensável apoio, iniciei também o percurso para uma mens sana já que, na quarta-feira, fui à aula inaugural de Art of Film, a primeira disciplina do curso de cinema que decidi tirar ainda antes das férias.

Tuesday, September 2, 2008

Nunca pensei vir a escrever isto

O inacreditável aconteceu: inscrevi-me num ginásio.

Saturday, August 30, 2008

12 things I learned in São Miguel (2008)

1. Alexandre is crazy.
2. Carlota is just as crazy as Alex.
3. Joana gosta de comida de mãe.
4. Nobody gives a damn about a skinny horse.
5. When Paula plays 11, she always gets the card she wants.
6. Pedro is the Godfather and Dajo has no respect.
7. Ricardo knows that we don't have "this shit" in America.
8. It's good to drink a beer after exercising.
9. The ice cream is way better in Ribeira Grande than in Vila Franca.
10. Air scarves are awesome!
11. Rodrigo doesn't always hit the target, but he can communicate with cows.
12.You can get anyone to talk about poop if you start the conversation.

Tuesday, August 26, 2008

Já te disse que elas acabaram, cérebro!

Eu bem que estou a tentar voltar ao trabalho, mas não está a sair nada de jeito. É como se eu já estivesse aqui à frente ao computador com o processador de texto aberto, mas o meu cérebro continuasse de férias.

Friday, August 22, 2008

Primeiro pensamento no regresso a casa

Estou de volta a NY e, para já, tenho o seguinte a dizer: por mais racional que se seja na análise de estatísticas, viajar de avião depois de ver imagens do acidente da Spanair no televisor da sala de embarque do aeroporto não é a melhor experiência que se pode ter.

Friday, July 25, 2008

Fechado até 21 de Agosto (ou 22 - não me lembro quando é que venho de férias e não tenho paciência para me levantar e ir ver ao bilhete de avião)

Como a partir de Domingo vou estar nos Açores, deixa de fazer sentido estar aqui a contar o que se anda a passar comigo. Quem estiver interessado, que telefone.

Entretanto, quis incluir neste post aquela que será a minha playlist deste Verão. São algumas sugestões musicais que deixo aqui para que quem vier ao blogue enquanto eu estiver de férias não venha em vão.

Summer 08

Wednesday, July 23, 2008

Ponto final parágrafo

Não é o fim do blogue, estejam descansados. Enquanto eu por cá andar, vão ter de levar comigo. O título deste post vem simplesmente a propósito do facto de me ter esquecido de dizer que deixei de ir trabalhar para a Paragraph.

Não me dei bem com aquilo. O ambiente era um bocado elitista de mais para o meu gosto e comprovei algo que até já sabia: eu escrevo, mas não sou escritor. Não sei ter conversas sobre Proust ou Camus, não estou ao corrente dos últimos lançamentos literários e nem sequer leio livros com grande frequência. Não tenho, pois, cabedal mental para ombrear com escritores a sério e, por isso, a verdade é que estava num patamar completamente diferente das maioria das pessoas que por lá andavam. Não que tivesse encontrado intelectuais de barba e óculos imersos em camalhaços. Pelo contrário. Apesar de ter conhecido alguns autores com best-sellers na lista do New York Times e com livros entre o Top 10 da Amazon, era tudo muito mais cool, muito mais moderno, o que, mesmo assim, não evitou que me sentisse deslocado.

Não ajudou, deduzo agora, o facto de não falar inglês na perfeição. Se, às vezes, ainda me é difícil exprimir exactamente o que quero em conversas com pessoas normais, imaginem agora tentar entrar em diálogo com escritores que, naturalmente, por fazerem da língua a sua ferramenta de trabalho, a dominam com total mestria. Quando começava a perceber do que se estava a falar, já o assunto era outro.

Isto, é evidente, quando os assuntos me interessavam, o que não se aplica, bem entendido, àquele dia em que entrei na zona de convívio e se estava a falar da evolução do socialismo na Nova Zelândia.

Thursday, July 17, 2008

Nunca digas nunca

Hoje fui visitar a The New School, uma das universidades aqui de Nova Iorque. Desde que tirei o curso de fotografia, ando com vontade de aprender e aquilo que sempre afastei das minhas cogitações desde que acabei a licenciatura anda a tornar-se um desejo cada vez mais forte: voltar à universidade.

De todos os departamentos da The New School, o mais famoso é, sem dúvida, o Parsons Institute, um dos mais prestigiados institutos de moda e design do mundo. Apesar disso, e depois de ter ainda considerado tirar um curso de design gráfico, estou muito mais inclinado para um curso de cinema. Comecei a considerar esta hipótese quando a Jennifer me disse que o irmão de uma amiga dela tirou lá esse curso e, agora, anda a fazer videoclips para o Jay-Z. Não que eu queira especialmente fazer videoclips para o Jay-Z (embora isso fosse interessante, nem que seja pela possibilidade de vislumbrar a Beyoncé num dia que ela fosse ao set visitar o marido), mas sim porque este exemplo prova que nesta universidade se adquire conhecimentos e - talvez ainda mais importante - contactos para se conseguir fazer videoclips para o Jay-Z.

Gostei muito do que vi na minha visita à escola. Boas instalações, excelente localização, bom ambiente, calendário extensivo de eventos (entre os quais mostras de filmes de alunos e festivais de cinema) e todo um conjunto de infraestruturas de apoio que, se calhar existem em todas as universidades como deve ser, mas, como eu tirei o curso numa que não tinha nada disso, para mim é todo um mundo fascinante de oportunidades.

É claro que não estou a pensar tirar mais um curso superior. Já tenho um e, para além do mais, não tenho paciência nem tempo para isso. A ideia é, talvez, completar o film production certificate, isto é, um curso que, no fundo, é um conjunto de cadeiras tiradas ao longo de dois anos em horário pós-laboral, uma ou duas vezes por semana. O interessante é que essas cadeiras e os professores que as leccionam são exactamente os mesmos, com muito poucas excepções, do masters em cinema que a universidade também oferece. A diferença é que, para que as cadeiras contem para o masters, é preciso pagar seiscentos dólares por crédito, o que, em números redondos, dá um total de mais de quinze mil dólares. Quinze mil marrecos apenas para ter direito a um canudo no fim no curso? Não me parece...

Sunday, July 13, 2008

Pacote de estímulo

O George Bush deu-me 1200 dólares. E eu nem sequer lhe pedi nada. Não foi só a mim, é claro - não sou assim tão especial. Toda a gente que pagou impostos aqui nos Estados Unidos recebeu um cheque de 600 dólares, no caso de ser solteiro, e de 1200, no caso de ser casado. Faz parte do chamado stimulus package, uma medida para ajudar a reanimar a economia americana e evitar que ela entre em recessão.

A ideia do governo federal é dar dinheiro às pessoas para que elas o vão gastar nas lojas e, dessa forma, o reintroduzam na economia. É um conceito interessante, sem dúvida, mas não sei até que ponto vai funcionar já que, da maneira que as coisas andam por aqui, muitos americanos utilizaram esses cheques, não para comprar nada, mas sim para reduzir as dívidas dos cartões de crédito, o que acaba por não ter o efeito desejado na ecomonia. No meu caso, os 1200 dólares foram direitinhos para a Sata International já que os utilizei para comprar a minha passagem para os Açores. Pode assim dizer-se que o Bush me pagou as férias, facto que não deixa de ser curioso.

Apesar da eficácia desta medida numa escala nacional ser duvidosa, no que a mim me diz respeito, este pacote de estímulo foi uma grande ideia. Receber dinheiro caído do céu, sem mexer uma palha? Até parece mentira. Se isto não é o verdadeiro american dream, então não sei o que será. Na minha opinião, isto só peca por defeito. Se querem mesmo reanimar a economia, deviam era enviar-me um cheque destes todos os meses. Isso é que era uma reanimação como deve ser.

Monday, July 7, 2008

This is the life....

I must share this. I hope someday to see all of these places..Please click here.

Escrevo, não escrevo

Estou aqui escrevo, não escrevo este post. Por um lado, gostava de o escrever para partilhar isto com mais alguém; por outro, o seu conteúdo poderá arrepiar os mais sensíveis. Não sei... É melhor não... É. É mesmo melhor não. Está decidido: não vou escrever este post. Direi apenas que a história que queria contar envolve unhas dos pés e portas de frigorífico. Ah! E que eu estava descalço. Pronto! Não digo mais nada. É melhor não. Acho que até já disse de mais.

Saturday, July 5, 2008

Ahhhh... Oohhh...

A promessa tinha sido feito no ano passado e, portanto, este ano, não podíamos faltar ao Macy's Fireworks Spectacular, o fogo de artifício comemorativo do 4 de Julho lançado sobre o East River, entre Manhattan e Brooklyn.

Três notas:

- A organização daquilo, nomeadamente no que diz respeito à distribuição e ao controlo de fluxo de pessoas, é qualquer coisa do outro mundo. É que não andam pelas margens do East River dez mil, nem mesmo cem mil pessoas. Por aquilo que li, são à volta de três milhões. Três milhões de pessoas a querer ver a mesma coisa e nunca fui empurrado, nem apertado, nem puxado.

- Considerando que era o dia da indepência dos Estados Unidos não vi tantas bandeiras americanas como estava à espera . Um ou outro patriota mais entusiamado com um lenço azul e vermelho na cabeça, uma ou outra T-shirt com a bandeira, e pouco mais.

- Em relação ao fogo de artifício propriamente dito, é, sem dúvida, uma coisa em grande e, se eu podia pensar que já estava tudo inventado na arte do fogo de artíficio, a verdade é que vi uns truques novos, dos quais destaco foguetes luminosos que, depois de lançados, descem lentamente pelos céus porque têm pequenos pára-quedas. Aquilo é quase como marines cobertos de luzinhas de Natal a serem lançados de um helicóptero sobre o Vietname.

Friday, July 4, 2008

Help Wanted

Hi all! I know that it has been a really really (really) long time since I last posted, but I am in desperate need of some assistance. As many of you know, I am doing my masters in English as a Second language. I was accepted into my college and was only told months later that my living abroad experience didn't count toward their foreign language credits requirement. I need to take a "test" stating that I am at an intermediate level in Portuguese. Now, determining levels is very vague, which is to my advantage. But to be honest, I think that I learned more Portuguese than someone who took 9 credits of it at an American university. (9 credits = Intermediate level. 9 credits equals three semesters) Is there anyone who can help me while we are visiting the island? I need someone at a university to sign a paper declaring my Portuguese level.
Thank you so much for your help!

Thursday, July 3, 2008

O roubo - Parte 2

Aparentemente, a novela vai ter menos partes que o antecipado porque o banco já me creditou na conta o valor de todas as transacções fraudulentas. Ainda não é propriamente o capítulo final desta história já que, na carta que me enviaram, os senhores do banco dizem que isto é um «crédito provisório» enquanto eles investigam o caso, mas a prontidão com que o assunto está a ser conduzido é de salutar. Aliás, até o próprio facto de me darem um «crédito provisório» é digno de registo porque, no fundo, eles não sabem se fui mesmo roubado ou se lhes estou a dar uma grande tanga, mas partem do princípio que estou a ser honesto.

Não sei como a coisa seria tratada se tivesse acontecido em Portugal, mas a verdade é que nisto os americanos são muito bons. Há dois ou três meses atrás, por exemplo, quando estava a carregar o passe do metro, a máquina cobrou-me 50 dólares sem colocar esse valor no passe e, ao contrário da minha previsão de que nunca seria reembolsado porque não tinha pedido recibo, bastou escrever uma carta a explicar o que se tinha passado para me enviarem um novo passe com os 50 dólares.

O mesmo se aplica a trocas e devoluções de produtos. Eu sempre fui contra isso, devo dizer, sempre me senti mal a devolver algo que tivesse comprado, mas aqui é um processo tão natural que não tenho o menor problema em voltar à loja e dizer que afinal já não quero aquilo. Acho que isso faz parte da cultura americana, porque o consumismo é de tal ordem que as pessoas compram coisas que não sabem bem se gostam ou não só porque têm medo que esgote. Dessa maneira, podem levar o que compraram para casa e experimentar durante alguns dias, sempre com a certeza que têm a opção de devolver o produto sem terem de responder a nenhuma pergunta a não ser «quer a devolução em dinheiro ou crédito?».

Monday, June 30, 2008

Troca directa

Troquei de aparelho de ar-condicionado com o porteiro do meu prédio. Eu tinha um ar condicionado portátil, tipo isto:

E troquei-o por um normal, daqueles que se instalam nas janelas. Foi um negócio perfeito, daqueles em que todas as partes ficam a ganhar, porque o porteiro, como vive na cave e tem gradeamento nas janelas, não podia instalar convenientemente o ar-condicionado que tinha, e nós detestávamos o nosso por várias razões:

- apesar deste tipo de aparelhos serem rotulados de «portáteis», a sua portabilidade é algo limitada já que é preciso montar um tubo de condensação na janela e, por isso, sempre que queríamos levar o ar-condicionado para outro lado, era preciso desmontar aquilo e levar o tubo atrás;

- a nossa casa é pequena e uma maquineta deste género ocupava espaço precioso e era quase como se tívessemos um robô no canto da sala (a Jennifer até o chamava de Wall-E)

- por fim, e acima de tudo, aquilo não refrigerava com a potência desejada.

Eu avisei o porteiro disto tudo porque, para além de não ser aldrabão, vejo-o quase todos os dias e, por isso, seria estúpido enganá-lo, tanto mais porque é ele que vem cá a casa quando temos algum problema com as canalizações ou outra coisa qualquer, e sabe-se lá o que um porteiro zangado é capaz de fazer. Foi, pois, com todo o conhecimento de causa que ele aceitou fazer a troca. Por mim, tudo bem, até porque eu a Jennifer já tínhamos combinado ir comprar um ar-condicionado normal no fim-de-semana.

Este negócio, para nós, foi ouro sobre azul porque poupámos dinheiro, livrámo-nos do Wall-E e, principalmente, não tivemos de nos preocupar com instalações, já que o porteiro trouxe o aparelho e montou-o na janela. Isto pode parecer um pormenor sem importância mas, para mim, é um ponto fundamental. Não que não fosse capaz de instalar aquilo, hã? Seria, com certeza. O problema é que, tal como há pessoas que têm pânico de tubarões, eu tenho pânico de deixar cair um ar-condicionado em cima da cabeça de alguém. Acho que foi desde que vi aquele episódio do Seinfeld em que o Kramer quer instalar o Commando 8, um ar-condicionado de 12500 B.T.U's, em casa do Jerry e deixa-o cair em cima de alguém que está a passar na rua.

O que interessa é que agora, com o meu ar-condionado novo, mantenho a casa a temperaturas árticas. É de tal maneira que acho que estaria dentro da legalidade, no que a temperaturas mínimas diz respeito, utilizar a minha sala para pendurar carcaças de vacas, como se de uma arca frigorífica se tratasse. Perguntam vocês: mas faz assim tanto calor que precisses disso tudo? Em resposta a essa questão, dou apenas um exemplo: quando começou o calor e eu ainda não tinha o ar-condicionado montado, deixei no armário o pacote de pepitas de chocolate que ponho nos cereais de pequeno (processo que, aliás, já descrevi aqui ao pormenor). Ora, o calor era tanto que, quando fui a ver, as pepitas tinham-se derretido todas e agora o que eu tinha no armário era uma espécie de mousse de chocolate. É esse o tipo de calor que se faz às vezes sentir aqui.

Sunday, June 22, 2008

Algumas fotos

Coloquei online algumas das fotos que tirei nestes últimos tempos (cliquem aqui ou na imagem do menu lateral). Olhando para as imagens como um conjunto, acho que se nota perfeitamente que sou um principiante, quer pelas falhas técnicas visíveis em algumas delas, quer pela falta de consistência, tanto em termos de estilo como de sujeito. Um conjunto de fotos que contém, por exemplo, imagens tão diferentes como um homem a olhar pela janela do MoMA e três pneus alinhados contra uma parede não pode ser considerado coerente e, penso eu, isso demonstra que, por enquanto, fotografo de modo completamente aleatório, sem nenhum conceito a orientar-me a câmara.

Queria também fazer notar, para justificar algumas das fotos, que muitas delas foram tiradas durante o meu curso de fotografia com o objectivo de praticar técnicas específicas, como sobre-exposição (que produz fotos predominante em tons claros e, por isso, mais leves e etéreas), sob-exposição (que, por outro lado, resulta em imagens mais escuras e, supostamente, mais misteriosas e sombrias), diferentes enquadramentos e diferentes técnicas de composição.

Thursday, June 19, 2008

Depois de escrever este post, percebi que só o facto de o estar a escrever foi uma contradição ao seu contéudo

Eu sei que há para aí muita gente que diz que se sofre mais com os jogos de selecção quando se está à distância, mas, agora que estou à distância, devo dizer que isso é treta. Não se sofre mais coisíssima nenhuma. Pelo contrário. Sofre-se até bem menos. Durante o jogo propriamente dito é a mesma coisa, mas depois, quando o jogo acaba e se por acaso perdemos, como aconteceu frente à Alemanha, o grau de sofrimento é bem inferior porque, se quisermos, podemos desligar por completo e esquecer até que houve jogo. Não levamos com o rescaldo do jogo nos noticiários, não lemos sobre o jogo nos jornais, não falamos sobre o jogo nos cafés. Se não formos à internet, é como se nada tivesse acontecido e podemos prosseguir com a nossa vida. No meu caso, por exemplo, decidi ir à lavar roupa à laundromat. Já que estava mal disposto, pelo menos fui executar uma das tarefas que mais detesto e que, por si só, me põe mal disposto. Dessa forma, as duas más disposições diluíram-se uma na noutra, evitando uma má disposição exclusiva provocada por apenas um dos motivos.

Monday, June 16, 2008

A ideia era ir ver os Vampire Weekend

Sábado à tarde, dia de calor, concerto à borla dos Vampire Weekend no Central Park? É claro que era de ir. A fila, como seria de esperar, começava à porta do Summer Stage, na 72nd Street, e ziguezaveava por entre árvores pelos menos uns dez ou quinze quarteirões. Para aí um quilómetro e meio à vontade de hipsters alinhados à espera de entrar no concerto, ou melhor, de wannabee hispters, já que quem é verdadeiramente hip não se mistura com as massas daquela maneira; quem é verdadeiramente hip não vai a espectáculos gratuitos, mas sim a eventos alternativos ultra-secretos divulgados por canais de comunicação a que só os hipsters têm acesso; quem é verdadeiramente hip já não gosta dos Vampire Weekend porque eles já são demasiado mainstream; quem é verdadeiramente hip viu um um concerto dos Vampire Weekend há um ano atrás «num pequeno bar em Brooklyn» quando ainda ninguém os conhecia.

Seja como for, e fossem elas quem fossem, a verdade é que estavam ali milhares de pessoas para entrar no concerto, circunstância justificada pelo facto de estar em questão aquela que é, de longe, a banda sensação de 2008. E não quero com isto dizer que ache eles sejam extraordinários. Gosto deles, admito que sim, mas neste particular, o pseudo-entendido que estava a atrás de nós a desbobinar ideias feitas sobre música decalcadas da última edição da Rolling Stone e que pertence àquele grupo de pessoas que dizem que o seu álbum preferido dos Radiohead é o Kid A, tinha razão: é curioso como estes fenómenos são criados. Basta um crítico qualquer a quem os amantes de música dão ouvidos dizer «este ano, estes gajos é que são bons» e pronto: está lançado o fenónemo. De um dia para o outro começam a vender discos como se fossem pães quentes, começam a dar entrevistas e aparecem em tudo o que é sítio, até que - e este é o sinal definitivo de que estão mesmo a ter sucesso - os hipsters que gostavam deles antes, decidem deixar de gostar porque já não é cool, e, ao invés, preferem comprar um dos cinquenta CD's exclusivos que a nova banda que ninguém conhece gravou numa cave no SoHo com um daqueles órgãos Casio que encontraram no lixo em sinal de protesto contra a opressão e isso.

Bom, estava eu aqui a querer contar como foi o concerto e, ao olhar para cima, reparo que tenho dois parágrafos recheado de dissertações sobre o funcionamento da cultura indie e, por enquanto, acção... nada. Voltando então à tarde de sábado, estava um belo dia, lembram-se disso? Boa, porque esse dado é importante para se perceber a dimensão pré-apocalíptica da mudança climatérica que viria a verificar-se. Eu já vi muito dia de sol a transformar-se em aguaceiro, mas nada como aquilo. Por acaso, até começou suavemente, como que em jeito de aviso. Uns pingos aqui, outros ali, nada de mais. Depois... a monção. Não estávamos na Índia, bem sei, mas não tenho outra palavra para descrever a quantidade de água que começou a cair. Foi quase como se alguém decidisse construir uma Barragem do Alqueva por cima do Central Park e abrir as comportas naquele momento, tudo isto acompanhado por uma trovoada medonha que parecia estar a rebentar a poucos metros de distância.

Em menos de meio minuto estávamos a pingar como se tivéssemos mergulhado com roupa e tudo no lago ali ao lado. «São burros! Porque é que não se foram embora?», exclamam e perguntam vocês. Não porque fizéssemos assim tanta questão em ver os Vampire Weekend. Isso é garantido. A questão é que ficámos tão encharcados em tão pouco tempo que, agora, nos parecia estúpido irmo-nos embora. Mais estúpido do que ficar, quero eu dizer. Por isso, aguentámos heroicamente até os milhares de resistentes começarem a dispersar e a palavra começar a viajar à velocidade de luz desde desde o início até ao final da fila por entre ahs e ohs de frustração e descontentamento: «Fecharam os portões! Não cabe mais ninguém!».

No metro para casa, a tremer de frio por causa do ar condicionado a congelar-me a T-shirt e os calções colados ao corpo, não estava triste nem frustrado, mas passou-me pela cabeça que se um raio acertasse em cheio do palco e electrocutasse uns quantos, assim uma coisa ligeira, nada de mortes, nem nada disso, eu até ia achar engraçado.

Wednesday, June 11, 2008

O roubo - Parte 1

Eu a Jennifer fomos roubados. Não como antigamente. Ninguém nos atacou com uma faca ou ameaçou espetar-nos uma seringa infectada com alguma doença fatal no pescoço. O que nos aconteceu foi algo bem mais sofisticado, uma daquelas coisas de que se ouve falar, mas que se pensa que só acontecem aos outros: alguém teve acesso aos dados de um dos nossos cartões multibanco e andou para aí a gastar o nosso dinheiro a torto e a direito. O cartão esteve sempre connosco, mas, pelos vistos, alguém fez uma cópia e descobriu o PIN, porque a verdade é que, contas feitas, foram quase mil dólares que nos desviaram numa semana. E foi uma sorte a Jennifer ontem ter tido um daqueles pressentimentos sem explicação e ter-me pedido para ir à net ver se estava tudo bem com a conta. Se não fosse isso, tinham roubado muito mais, com certeza.

O curioso é que as transacções fraudulentas foram sempre efectuadas em bombas de gasolina. Eu sei que a gasolina está cara, mas gastar noventa ou cem dólares numa bomba de gasolina todos os dias parece-me estranho, a não ser que o filho da p#$% do ladrão tenha uma frota de autocarros ou ande a conduzir pela cidade um daquelas camiões que fazem cimento.

Bom, é claro que a primeira coisa que fizemos foi cancelar o cartão. O segundo passo foi irmos hoje ao banco para saber o que fazer a seguir. A funcionária que nos recebeu - impecável, por acaso - disse-nos que muita gente tem tido o mesmo problema, o que me leva a perguntar o seguinte: e o banco não faz nada? Não devia haver um sistema qualquer para detectar fraudes deste género? Não estão preocupados com o facto de haver para aí gente que - nem sei bem como - consegue ter acesso aos dados dos cartões multibancos dos seus clientes? Eu não sou polícia, nem muito o Grissom do CSI, mas há aqui um padrão evidente, tanto mais que todas queixas recebidas até ao momento envolvem débitos fraudulentos em bombas de gasolina na zona da Jamaica, aqui em Queens.

Aparentemente, o banco vai restituir-nos o valor desviado da conta depois de investigar o caso. Temos, para já, de escrever uma carta a explicar a situação. Desenvolvimentos aqui no blogue, à medida que forem acontecendo. Parece-me que isto vai ser uma novela com muitas partes.

Tuesday, June 10, 2008

Aceitam-se apostas

É incrível como o Barack Obama conseguiu vencer as primárias do Partido Democrata contra o prestígio e a poderosa máquina eleitoral dos Clintons. A Hillary não queria, mas lá teve de aceitar a derrota, porque percebeu que já era ridículo ser a única pessoa que ainda pensava que ela podia ganhar. Contudo, e pela resiliência demonstrada em chegar à presidência contra tudo e contra todos, há uma pergunta que se impõe: se o Obama escolher a Hillary para vice-presidente, como é que ela o vai despachar para ser ela a governar? A Jennifer acha que ela o atira para debaixo de um comboio; eu cá aposto que o sufoca com uma almofada e ainda deixa ao lado dele o vestido azul da Monica Lewinski para a incriminar.

Wednesday, June 4, 2008

Hóquei no gelo: a análise

Depois de já ter falado aqui de beisebol, de futebol americano e de basquetebol, chega agora a vez de abordar outro desporto que os americanos apreciam bastante: o hóquei no gelo. Isto porque a equipa da Jennifer, os Pittsburgh Penguins, chegou à final dos playoffs e disputou a Stanley Cup, o mais prestigiado troféu da modalidade, dando-me, assim, e apesar de terem perdido, a oportunidade de ver alguns jogos com a emoção que eles merecem.

Como é que funciona então o hóquei no gelo? Essencialmente, é assim: vão todos a patinar para um lado e embrulham-se uns com os outros; vão todos a patinar para o outro e embrulham-se uns com os outros. Se, em vez de gelo, o recinto fosse de terra, só viam nuvens de poeira, ora num lado, ora no outro, como nos desenhos animados. O que torna o jogo interessante é que isto acontece tudo a um ritmo supersónico. O hóquei no gelo é jogado a uma velocidade tão vertiginosa que muitas vezes nem em câmara lenta consigo perceber o que aconteceu. Distinguir para onde o disco foi então, nem se fala. Só para quem tem olho de lince. Aliás, só percebo que é golo quando vejo jogadores aos abraços e os comentadores aos berros.

As semelhanças entre hóquei no gelo e hóquei em patins são nenhumas. Para além de se poder pontapear o disco com os patins ou mesmo controlá-lo com as mãos, no hóquei no gelo vale tudo menos tirar olhos. Empurrar os adversários, atirá-los contra o vidro de protecção do ringue, ir a patinar a toda a velocidade e atropelá-los sem piedade ao ponto de os deixar inconscientes, tudo isto é permitido, como se pode ver neste elucidativo vídeo (chamo especial atenção para o número 5 da contragem decrescente):



Com jogadas desta natureza, não admira que haja pancadaria da séria. Segundo as regras do hóquei no gelo, as lutas físicas são ilegais, mas, por tradição, os árbitros deixam que elas aconteçam. Sendo assim, e com um bocado de sorte, é possível assistir a cenas destas:



Depois de ver isto, não consigo deixar de pensar no Petit. Ia dar um grande jogador de hóquei no gelo, sem dúvida nenhuma. Azar o dele ter nascido num país em que se joga futebol porque, por aquilo que se conhece do seu comportamento em campo, ia sentir-se muito melhor num desporto em que a linha entre agressividade competitiva e violência é muito ténue. Muito ténue, mesmo.

2 de Junho

Foi anteotem: o dia em que tirei o ar-condicionado da dispensa este ano. Por aqui, já não se aguenta o calor sem recurso a sistemas de refrigeração electrónicos.

Monday, June 2, 2008

Devias ter visto aquilo, Gabriel Alves

Hoje, quase dois anos depois, voltei a dar um pontapé numa bola de futebol. Foi na minha rua. Estavam uns putos mexicanos a dar uns toques e a bola fugiu na minha direcção. Secretamente, enquanto descia a rua, desejei que isso acontecesse. Estava-me a apetecer acariciar um esférico depois de tanto tempo e, claro, não ia começar a correr atrás das crianças para lhes roubar a bola porque eles ainda chamavam os irmãos mais velhos e eu acabava transformado em enchilada ou, pior, em burrito. Sendo assim, quando a redondinha veio direitinha a mim, foi como se os deuses do futebol estivessem comigo. Com a classe de um Rui Costa, dominei a bola no bola no ar, pu-la no chão, e fiz um passe rasgado para a corrida de um dos putos, que ficou a olhar para mim com quem diz «epá, não estava à espera que conseguisses fazer isso porque pensei que fosses americano e estes americanos não percebem nada de futebol, mas tu, por aquilo que estou a ver, não és daqui, com certeza». Por acaso, o domínio e a desmarcação até correram bastante bem, diga-se de passagem. Foi de tal maneira que quase disse que era irmão do Cristiano Ronaldo.

Sunday, June 1, 2008

Outro final de temporada e, já agora, considerações sobre as diferenças entre a produção televisiva em Portugal e nos Estados Unidos

Continuando ainda a falar de programas de televisão, quinta-feira terminou aqui a quarta temporada de uma série que, apesar de não chegar aos calcanhares do «Edição Extra», parece que tem meia-dúzia de fãs pelo mundo fora. Falo, é claro, do «Lost». Esta quarta temporada, que terminou com um episódio especial que mais parece um filme de acção de Hollywood, é, acho eu, a mais fraca até ao momento. Deu-me a impressão que, em vez de catorze episódios, o enredo podia ter sido compactado em seis ou sete, e ainda ficava a sobrar tempo. Contudo, e apesar disso, continuo fiel, que mais não seja porque uma das últimas cenas da temporada é passada ao som do «Gauge Your Way» dos Pixies, e uma série que coloca uma música deste calibre na banda sonora merece o meu apoio incondicional. Para além disso, a linha narrativa deixada em aberto para a quinta temporada é de deixar água na boca.

Já agora, e porque não tenho paciência para iniciar um post separado, quero aproveitar o facto de estar a falar de televisão para abordar uma das diferenças entre a produção televisiva nos Estados Unidos e em Portugal: o orçamento. Não faço ideia de quanto custa um episódio do «Lost», mas sei que o «Carnivale», uma série que nem sequer passava em canal aberto, mas sim na HBO - um canal por assinatura -, tinha um custo de quatro milhões de dólares por episódio. E digo «tinha» porque, entretanto, a série foi cancelada já que, devido às audiências não serem as desejadas, a direcção do canal propôs uma redução para dois milhões de dólares por episódio e a produção não aceitou o corte. Dois milhões de dólares! Em Portugal, nem sequer um filme tem orçamentos destes, muito menos um episódio de uma série de televisão.

Se me dessem dois milhões de dólares para produzir um episódio acho que nem sequer saberia onde os gastar, mas a verdade é que, nos Estados Unidos, isso desaparece num instante porque toda a gente envolvida numa produção audiovisual é bem paga. Dou um exemplo: os actores que fazem as principais vozes dos «Simpsons» recebem trezentos e sessenta mil dólares por episódio (e estão em greve porque querem ser aumentados para meio milhão).

É claro que, com tanto dinheiro disponível, se chegam a cometer verdadeiros desperdícios. Acho que o melhor exemplo disso é aquela história do Jean Piere-Jeunet sobre as diferenças que encontrou entre realizar o «Delicatessen» e o «Alien 4». Em ambos os projectos, conta ele, era preciso uma aranha para uma das cenas. No «Delicatessen», uma produção independente francesa, ele próprio trouxe uma aranha que encontrou no sótão da sua casa; no «Alien 4», um blockbuster de Hollywood, teve de escolher entre centenas de aranhas trazidas por um especialista que cobrou uma fortuna.

Thursday, May 29, 2008

São às dezenas, pá. Às dezenas.

Estou um bocado boquiaberto com a quantidade de e-mails que têm chegado à SIC a pedir uma terceira temporada do «Edição Extra». Desde a exibição do último programa da segunda série, domingo passado, já são mais de sessenta as mensagens recebidas, e isso é algo que me deixa realmente satisfeito. É que uma coisa é gostar do programa, outra é dar-se ao trabalho de escrever um e-mail a pedir que ele continue Eu não teria pachorra para isso, com certeza.

Para além da quantidade, deixa-me contente também o conteúdo. Elogios rasgados, agradecimentos por horas de boa disposição, referências à atenção ao detalhe com que aquilo é feito e, acima de tudo, apelos para que uma possível terceira temporada não vá para o ar na SIC Radical, mas passe para SIC Generalista. Nunca escondemos que esse é o nosso desejo, como é evidente. Para além da maior visibilidade que isso daria ao nosso trabalho, uma mudança para a Generalista significaria também uma melhoria das contrapartidas financeiras que retiramos deste programa e, dessa forma, talvez as horas e horas de trabalho que pomos na sua criação passassem a ser remuneradas de modo mais correspondente. A Radical tem-nos tratado muito bem, mas é lógico que os orçamentos com que um canal por cabo se governa são limitados e quem aceita fazer parte da programação de um canal desses já sabe com que tem de estar disposto a trabalhar mais por gosto do que por dinheiro. Nós aceitámos essa circunstância e, se a direcção da Radical quiser continuar a contar connosco, aceitaremo-la de novo, mas o pulo para a Generalista seria a concretização de um objectico que já temos há anos. Pensamos que estamos preparados para abraçar um projecto desses, mas logo se verá o que vai acontecer.

Tudo isto para dizer o seguinte: o e-mail para enviar mensagens a pedir uma terceira temporada é edicaoextra@sic.pt

Monday, May 26, 2008

Trinta e três

Passei um dia de aniversário bem agradável. Depois do brunch (refeição tipicamente novaiorquina, parece-me, que é uma mistura de breakfast com lunch - daí brunch) num café aqui ao pé de casa, fui passear com a Jennifer para a Grenwich Village, no Lower West Side. Bem que gostava de ter ali um apartamentozinho, diga-se de passagem, apesar de pagar dois mil ou dois mil e quinhentos dólares para arrendar um estúdio do tamanho de uma arrecadação no quarto andar de um prédio sem elevador cheio de ratos e baratas, como grande parte das casas em Manhattan, ser, talvez, um preço demasiado elevado a pagar (esta imagem está, admito, um pouco hiperbolizada, mas é a maneira que encontro para aceitar pacificamente o facto de viver em Queens). Sempre em passeio, atravessámos o SoHo em direcção à East Village e sentámo-nos num bar na St. Marks Place, uma das ruas mais interessantes de Manhattan, na minha opinião, onde coabitam ateliês de piercings e tatuagens com restaurantes asiáticos, entre escolas de yoga, lojas de comic books, boutiques retro e gelatarias gourmet - bom local para people watching, portanto. Cerveja para mim, vinho para a Jennifer. Cerveja para mim, vinho para a Jennifer (foi mesmo duas vezes). Por esta altura, já era hora de jantar e eu estava com desejo de sushi. Uma amiga da Jennifer aconselhou-nos um restaurante ali perto que, por sorte, estava com cinquenta por cento de desconto nos rolos. Resumindo: sushi até fartar, mais umas entradas e bebidas por apenas trinta e dois dólares, o que é uma pechincha. O sushi em si não foi o melhor que já comi, mas não era mau e, por trinta e dois dólares, foi um grande negócio. Para sobremesa, e como estávamos no Lower East, fomos em busca do meu New York cheesecake preferido: o chocolate marble cheesecake da Veniero's. Delícia. Trouxemo-lo para casa, porque, como sempre, a pastelaria estava à cunha, e pedimos ainda para embrulhar uma outra iguaria de chocolate que eles lá tinham na vitrina. Saboreámos isso tudo, já refastelados no sofá, a ver o Politics do Ricky Gervais. Muito agradável. Muito agradável, mesmo.

Saturday, May 17, 2008

Primeiras tacadas do ano

Hoje abri a minha época de golfe. Estive no driving range a bater bolas e fiquei com bolhas nos dedos para o confirmar. Tenho mesmo mãos de mulher, pá. É uma vergonha. Tenho a pele mais delicada que a do rabo de um bebé. Vê-se logo que o trabalho manual mais duro que sou obrigado a fazer é carregar o portátil do sofá para a mesa. O problema é que isto de ter bolhas nos dedos afecta-me bastante. Elas não matam ninguém, é verdade, mas prejudicam de modo acentuado o meu desempenho na outra actividade física a que me dedico: jogar Playstation.

Thursday, May 8, 2008

Isto era para ser um post sobre fotografia, mas acabou por ser sobre inveja de que quem tem coragem para fazer aquilo que eu gostaria de fazer

E pronto: o meu curso de fotografia chegou ontem ao fim com uma exibição das melhores imagens tiradas nestas nove semanas. Aquilo estava cheio de gente, porque foram duas turmas a expor, mais os convidados e isso tudo, mas, depois do pessoal se ir embora, acabou comigo meio besunto a falar com o meu professor, também ele meio besunto, enquanto a Jennifer e uma amiga dela esperavam pacientemente e aproveitavam para trocar histórias de alunos que levam facas de cozinha para as respectivas escolas.

O meu professor vai deixar de dar aulas para passar dois ou três anos a viajar pelo mundo. Tenho mesmo muita pena dele, coitado. Que vida desagradável que deve ser passar dois anos a viajar e a tirar fotos. Também falei com uma antiga aluna dele que decidiu vender tudo o que possuía e ir seis meses para o Nepal e depois ir ensinar inglês para o Vietname. Também estou cheio de pena dela, é claro.

Bom, invejas à parte, quando tiver oportunidade, vou organizar as minhas fotos numa página toda bonitinha e colocá-las online. Quando esse projecto estiver concluído, o que só deve acontecer depois de terminada a segunda temporada do «Edição Extra», já que, antes disso, duvido que tenha tempo, darei notícias. Até lá, se quiserem, visitem este site que apresenta uma versão virtual daquele que é, talvez, o melhor álbum de fotografia da história, o «The Decisive Moment», e imaginem que, em vez do Henri Cartier-Bresson, fui eu a tirar aquelas fotos.

Tuesday, May 6, 2008

Esta semana começou à terça

Na semana passada, o trabalho correu-me lindamente. As ideias surgiram-me quase sem pensar e os textos quase que se escreveram a eles próprios. Contudo, ontem, segunda-feira, passei o dia a olhar para o ficheiro de Word em branco. Cada frase escrita, cada frase apagada. Não me saiu uma linha decente. Nem uma. Temi o pior: uma semana seca. Odeio semanas dessas. Já tive algumas, infelizmente, mas hoje acordei disposto a combater essa possibilidade. Afinal quem é que manda aqui? Eu ou o meu cérebro? Fiz um café mais forte do que o costume e liguei o computador cheio de determinação. Escolhi a banda sonora da manhã: «With Every Heartbeat» da Robyn, e «This Is For My People» da Missy Elliot e ouvi estas duas músicas em repeat durante a primeira hora de trabalho.

Resultou.



Wednesday, April 30, 2008

E aquela música do «Fabuloso Destino de Amélie»? Sabe tocar?

Hoje vi um gajo a tocar orgão e acordeão ao mesmo tempo. Eu pensava que era preciso ir a um concerto do Yann Tiersen para assistir a uma coisa dessas, mas afinal parece que não. Basta ir à estação de metro de Union Square.

Thursday, April 17, 2008

Outro post que preferia mais, mas mesmo muito mais, não ter de escrever

Afinal não tenho de pagar apenas dois IRS's, um em Portugal e outro aqui nos Estados Unidos, mas sim três: um em Portugal, e dois aqui. Eu nem sequer queria acreditar, mas aqui, para além do IRS federal, há que pagar também um imposto sobre o rendimento à cidade onde se vive. E não é coisa pouca. Contas feitas, vamos receber um reembolso federal de cerca de quatrocentos dólares mas, em contrapartida - e ponham os vossos olhos nisto - temos de pagar mais de mil dólares à cidade de Nova Iorque. Epá, vão mas é chular a sogra!

Sunday, April 13, 2008

Post que preferia mais, mas mesmo muito mais, não ter de escrever

A renda do meu apartamento subiu para 1200 dólares.

Thursday, April 10, 2008

Coisas que não sabia e agora sei

Para quem percebe alguma coisa de fotografia isto não será novidade nenhuma, mas a mim, que vivia na ignorância das possibilidades de uma máquina fotográfica e, mais concretamente, de uma lente, o meu curso está a fazer revelações extraordinárias. O trabalho de casa da semana passada era tirar duas fotografias que ilustrassem o efeito de proximidade/afastamento do fundo em relação ao objecto utilizando duas distâncias focais diferentes. Eis as imagens que levei (esqueçam a estética, não é isso que interessa aqui):

Não é incrível? As casas são as mesmas nas duas imagens, mas numa parece que os prédios do fundo estão mesmo em cima das casas da frente, enquanto que na outra dá a ideia que elas estão quilómetros de distância. E, na realidade, a distância é a mesma, porque não andei a puxar prédios para trás e para à frente só para provar o meu ponto. Só mudei a distância focal e a distância a que estava das casas. Agora, se isto não é impressionante, então não sei o que será. Bom, por acaso até sei... É isto (não é pornografia, podem ver à confiança):



Depois de ver este vídeo, jurei nunca mais dizer que sei trabalhar no Photoshop. Dou uns toques, vá.

Sunday, April 6, 2008

Tri

Ainda bem que não estou em Portugal neste fim-de-semana. Ver o Porto ganhar mais um campeonato à distância não custa tanto. Pelo menos não tenho de levar com as notícias sobre a festa na Avenida dos Aliados.

Saturday, April 5, 2008

IRS vezes dois

Já não bastava ter de entregar declarações de IRS em Portugal, agora tenho de as entregar também aqui. Só vou ter pagar num dos países - acho eu - mas tenho de declarar rendimentos em ambos. Duas vezes a preocupação, duas vezes a chatice, ainda mais porque, para minha infelicidade, ninguém parece perceber muito bem como proceder, já que não é muito normal uma pessoa residir num país e receber o ordenado noutro país sem lá pôr os pés. Ontem passei quase duas horas numa empresa especializada em impostos (a quem, só para quem estiver interessado, vou pagar qualquer coisa à volta de 250 dólares - fo**-se...) e nem eles sabem muito o que fazer. Têm de estudar o caso. São, pelos vistos, possibilidades que a internet abriu e que o IRS ainda não assimilou. A verdade é que, nesta situação, sinto-me como o outro: na América sou português, em Portugal sou americano... não sei o que é que eu sou!

Wednesday, April 2, 2008

Hoje «vim para o trabalho»

Depois de quatro meses em lista de espera, consegui finalmente uma vaga na Paragraph e hoje é o primeiro que vim para cá trabalhar. Por enquanto, está correr bem. Já escrevi um «Memória de Elefante» e agora vou escrever outro. É curioso como a maioria das pessoas pagava para não ter de ir trabalhar para um escritório, e eu pago para vir para um. Quer-se sempre aquilo que não se tem, de facto. Mas tudo bem: isto também não é um escritório normal. Atrás de mim, por exemplo, está uma rapariga deitada no sofá a dormir junto à lareira.

Thursday, March 27, 2008

Não é nenhum Picasso, mas é aquilo que consigo fazer

Estou a curtir à brava o meu curso de fotografia. Para já, estamos a tratar de conceitos mais técnicos como abertura, tempo de exposição, cinzento médio, e coisas do género que, no fundo, são a base da fotografia, e, por isso, os nossos projectos têm sido também eles mais técnicos e pouco interessantes. Contudo, diverti-me bastante com um dos trabalhos de casa da semana passada: fazer algumas experiências com tempos de exposição muito longos. Baseei-me naquela fotografia famosa do Picasso a pintar um quadro de luz e utilizei a mesma técnica para fazer um boneco de luz na minha sala com uma lanterna e uma exposição de 10 segundos:

Wednesday, March 26, 2008

O reconhecimento é o primeiro passo para a cura

Depois de um post mais pesado que o habitual, hoje, para desanuviar o blogue, deixo aqui uma citação do Homer Simpson retirada de um episódio que vi ontem: «How come the things that usually happen to stupid people keep happening to me?».

Tuesday, March 25, 2008

Se calhar, ele pensava que era uma aula de culinária

Um aluno da escola da Jennifer foi apanhado com um facalhão de cozinha na sala de aula. Apesar de por pouco o cutelo em questão não ser considerado arma branca, o que significaria que esta ocorrência passaria a ser um caso de polícia e que, provalmente, o puto seria levado para uma casa de correcção, a directora decidiu suspendê-lo apenas por uma semana para que este caso não estragasse o registo da escola no ranking de classificação das escolas, preferindo não ouvir quem lhe disse que este aluno abre sobrolhos a colegas semana sim, semana não, escreve composições sobre gangs, desenha símbolos de gangs e usa um colares de gangs. Ninguém é maior apologista de dar segundas oportunidadas a pessoas - até sou de mais, admito - mas o que é que a directora da escola está à espera para perceber que este puto qualquer dia vai abrir a barriga a alguém? Será que precisa de ver as miudezas de outro aluno ou de um professor espalhadas pelo recreio? Ou, mesmo nessa altura, manda os contínuos limparem aquilo depressa para não estragar a classificação da escola?

Tuesday, March 18, 2008

Para animar o resto da semana

«Paper Planes» da M.I.A., a minha feel good song do momento.

Sunday, March 16, 2008

Nove dias depois, um post

Isto nestas últimas semanas tem sido um pouco complicado para cá vir ao blogue escrever qualquer coisa. Tenho uma maior intervenção na segunda temporada do «Edição Extra» do que tinha na primeira, e isso combinado com a redacção dos textos do «Memória e Elefante» implica menos tempo disponível e menos paciência para vir aqui escrever posts. Para além disso - ou, talvez, por isso mesmo - não tenho feito nada digno de grande destaque. Quer dizer, lembrei-me agora que comecei o meu curso de fotografia na quarta-feira. Ah! E pus lentes de contacto. Por acaso, qualquer um desses assuntos merece uma reflexão mais aprofundada no futuro, mas não vai ser hoje com certeza. Estou cansado.

Friday, March 7, 2008

A estreia mais desejada do ano (principalmente por mim, pelo Bruno e pelo Dionísio)

Domingo que vem (dia 9 de Março), o «Edição Extra» volta a SIC Radical. Depois de uma primeira série que registou valores de audiência muitíssimo bons para um novo formato, voltamos a ter a confiança da Radical para um novo conjunto de programas.

Tal como fizemos na primeira temporada, continuaremos a disponibilizar todas as edições no nosso blogue (edicao-extra.blogspot.com). Aqui fica, para já, a promo do programa.

Thursday, March 6, 2008

Miami - Dia 7

É o regresso a casa. Não me apetece.

Wednesday, March 5, 2008

Miami - Dia 6

A Jennifer mal se consegue mexer por causa do escaldão. Praia fica logo fora de questão. Tomamos o pequeno-almoço na Lincoln Road.

Vamos devagarinho até à Ocean Drive, cenário da famosa cena da serra eléctrica no «Scarface».

Passeamos por ali até que o calor se torna algo insuportável. Está tanto calor que dou por mim agradecer o tempo não ter estado assim tão bom durante os outros dias. Sentamo-nos no News Café durante bastante tempo a beber Coronas e a fazer people watching, uma das minhas actividades preferidas. Damos mais umas voltas e acabamos na esplanada da happy hour. Desta vez chegamos mais cedo e saboreamos o nosso último final de tarde em Miami. Lembro-me que tenho de beber um Martini Dry em honra do Bruno. Vamos de novo para South Beach. Peço o Martini.

Vermout com vodka. É quase álcool puro. Penso que seria ridículo alguém entrar num bar e pedir um Martini «shaken, not stirred», como o James Bond. Penso logo depois que deve haver muito gente do que eu penso a fazer isso. Vamos para o hotel fazer as malas.

Thursday, February 28, 2008

Miami - Dia 5

Finalmente, a praia. Não é que o dia esteja radioso, mas está suficientemente bom. Atravessamos a rua e procuramos o melhor local para estender a toalha. Temos de andar um bocadinho porque há um prédio em obras e o barulho dos martelos pneumáticos incomoda um pouco. Ahh... na praia em Fevereiro: acho que é a primeira vez que faço isto. Ameaça chover e preparamo-nos para ir embora. Entretanto o sol volta e voltamos a estender-nos na areia. Jogamos beach ball. Dou duas ou três corridas e fico com a língua de fora. A Jennifer goza comigo e eu faço-me de forte apesar de estar sem fôlego. De vez em quando, atiro a bola para longe para descansar enquanto ela a vai buscar. A meio do dia, vamos beber qualquer coisa a uma esplanada que dá para a praia. O barman diz-nos que há uma happy hour das quatro às sete. Duas bebidas pelo preço de uma. Parece-nos bem e fica marcado encontro para mais logo. Voltamos à praia. Falamos sobre onde queremos ir nas nossas próximas férias. Vamos tomar duche ao hotel porque, entretanto, já são cinco da tarde e queremos a aproveitar a happy hour. A Jennifer tinha posto protector solar, mas está com um grande escaldão. Eu não tinha posto protector nenhum, e também estou com um escaldão. Chegamos ao bar já depois das seis. Temos apenas uma hora mas ainda dá tempo para tirar uma foto da praia:

Peço uma Margarita, a Jennifer um Gin Tónico. A minha Margarita não está grande coisa. Lembro-me da lição que aprendi dias atrás e, desta vez, digo ao barman que a bebida podia estar melhor. Ele faz-me sinal para eu ficar descansado porque vai tratar de mim como deve ser. Não sei o que ele faz, mas a próxima Margarita vem muito melhor. Bebemos mais umas quantas coisas depressa antes das sete. Eu peço um hambúrguer que está muito bom. A Jennifer pede um sandes de Mahi-mahi grelhado (acho que é Dourada, em português) que também está muito boa. Passado um bocado ela já não está a dizer coisa com coisa e eu tenho de lhe acabar a bebida. Depois, para dizer a verdade, não me lembro bem do que acontece no resto da noite.

Tuesday, February 26, 2008

Miami - Dia 4

O plano para hoje é ir às Florida Keys. Acordamos relativamente cedo para alugar um carro. A rent-a-car está uma loucura. A rapariga que está a ser atendida pede por favor para acelerarem o processo porque tem um avião para apanhar em menos de três quartos de hora, mas ninguém parece estar muito preocupado com isso. Quando chega à nossa vez, e como não têm mais nenhum carro compacto disponível apesar de termos feito uma reserva no dia anterior, dão-nos este:

A Jennifer fica um bocado chateada porque é ela que vai conduzir e o carro é grande como os cornos, mas eu acho piada. Vejo no mapa que Coral Gables fica a caminho do nosso destino e decidimos ir lá tomar o pequeno-almoço. A viagem demora dez minutos. Lembro-me que no dia anterior tínhamos levado quase duas horas para chegar quase ao mesmo local de transportes públicos. Comemos um bagel ao pequeno-almoço. Comparado com os bagels de Nova Iorque, este é, em boa verdade, um mini-bagel. Prosseguimos para as Florida Keys. Enorme desilusão. Estava à espera de praias e flamingos, mas não vejo nada disso porque há hotéis por todo o lado. Um pouco frustrados, decidimos voltar para trás e ir aos Everglades procurar crocodilos. Como não somos malucos e não queremos perder uma perna, vamos à Aligator Farm e fazemos uma viagem de airboat.

Só por isto, o dia já valeu. De volta a Miami, a Jennifer bebe água de um coco.

Voltamos a South Beach antes das oito para podermos entregar o carro e não nos preocuparmos com estacionamento. Como uma reuben, a rainha das sandes, na minha opinião. A Jennifer escolhe uma sandes de galinha com queijo parmesão, ou algo parecido. Apesar de termos seguido a estratégia delineada no dia anterior em relação aos jantares, acabamos por pagar à mesma 70 dólares.

Monday, February 25, 2008

Miami - Dia 3

Mais um despertar sem sol. Na verdade, está a chover. Ligo o Weather Channel e a previsão para o resto do dia não é a melhor. Céu geralmente muito nebulado com períodos de chuva. Mesmo assim, bem melhor do que em Nova Iorque, reparo, atacada por um nevão dos grandes. Decidimos deixar a visita às Florida Keys para o dia seguinte, até porque acordámos tarde e já não vai render. Perguntamos a um dos funcionários do hotel o que ele nos aconselha a fazer. Ele diz-nos para irmos a Vizcaya, Coconut Grove e Coral Gables. Parece que sabe o que está a dizer e, por isso, perguntamos também onde podemos encontrar verdadeira comida cubana. Ele fala mal dos restaurantes cubanos da zona turística e indica-nos o caminho para o Latin Café, o restaurante onde os locais vão comer. Gosto da sensação de estar a evitar as tourists traps. No Latin Café, queremos o especial de pequeno-almoço, mas já passou da hora. Paciência. Comemos outra coisa qualquer. Vejo na televisão do café que o Fidel Castro se demitiu. Registo que estou no local certo para ser informado de uma coisa destas, apesar de ninguém parecer ligar muito, diga-se de passagem. Para quem está a ver uma página de história a ser virada, aqueles cubanos estão estranhamente alheados. Um autocarro, um eléctrico e um comboio depois chegamos a Vizcaya. Parece a Quinta da Regaleira, em Sintra. É bonito, e tudo, mas não é o que me apetece ver. Procuro no mapa como ir dali para Coconut Grove. Parece-me que dá para apanhar um autocarro, mas não tenho a certeza. Peço indicações a um senhor que tem um macaco no nariz e ele diz que temos de ir para a paragem do outro lado da estrada e que o autocarro deve passar dali a 10 minutos. Esperamos bem mais de meia hora. Entretenho-me a dizer «Olha o Horatio!», sempre que vejo um Hummer a passar, mas sei bem que não é ele. O Horatio Cane é uma personagem de ficção do CSI: Miami e aqueles Hummers são bem reais. O autocarro acaba por vir. Coconut Grove é uma desilusão ainda maior do que Vizcaya. Nada para ver. Damos a volta àquilo. Começa a chover. Entramos num a loja de surf e perguntamos se vale a pena irmos a Coral Gables. O empregado pergunta se estamos de carro. Respondemos que não. Ele abana a cabeça e diz que andar em Miami nos transportes públicos é a pior coisa que se pode fazer. Eu já tinha percebido, por acaso. Quando estamos a discutir o que fazer, vemos um autocarro e nem pensamos duas vezes: Coral Gables que se lixe! Vamos mas é voltar para Miami Beach. Temos de sair no centro de Miami para apanharmos outro autocarro. A paragem é algo sombria. O mesmo gajo vem-me pedir dinheiro três ou quatro vezes. As drogas lixam mesmo a cabeça a uma pessoa. Vamos para a Ocean Drive e combinamos ir jantar com uma amiga da Jennifer que também está a passar uns dias em Miami. Enquanto esperamos por ela, admiro os famosos edifícios art deco que são a imagem de marca de South Beach. Lamento não ter comigo a máquina fotográfica. A amiga da Jennifer chega e acabamos todos num restaurante que está com 50% de desconto na comida. Mais tarde, chega uma amiga da amiga. Que sorte a dela! Vai passar seis meses a viajar pela América Latina. Procuro saber como é que ela consegue fazer isso. Não trabalha? É milionária? Percebo que, no fundo, o que é preciso mesmo é querer. Depois do jantar elas vão ao cinema e eu e a Jennifer vamos procurar uma boa sobremesa. Pelo caminho, tecemos considerações sobre a comida em Miami. Bem pior do que em Nova Iorque, sem dúvida. Não é que seja má, mas, por aquilo que andamos a pagar, era de esperar bem melhor. Decidimos, por isso, que não vale a pena estar a gastar 70 ou 80 dólares por jantar e mudamos de estratégia: passar a comer sandes e gastar o dinheiro em bebida. Celebramos a decisão com um bolo de chocolate. Ainda é mais ou menos cedo, mas estamos de rastos. Tantos autocarros e comboios deram cabo de nós. No caminho de volta ao hotel, combinamos dizer ao funcionário que nos sugeriu o intinerário para o dia que gostámos imenso de tudo o que vimos, apesar de, na realidade, isso ser mentira. Não estamos é com paciência para grandes explicações.

Sunday, February 24, 2008

Miami - Dia 2

O dia começa sem sol. Espreitamos a praia, mas não está tempo para ir. Talvez mais tarde. Vamos antes ao Turismo para saber o que há para ver e fazer. A senhora dá-me uma montanha de papéis e folhetos. Meia floresta abatida, no mínimo. Diz-nos para irmos a museus. Não. Museus tenho eu com fartura em Nova Iorque. Decidimos ir antes a downtown Miami. Antes de apanhar o autocarro, pequeno-almoço no Van Dyke Cafe, na Lincoln Street, uma das principais ruas de South Beach. Grande sessão de people watching. Depois, em Miami, primeira paragem na Bayside.

Ainda é cedo para bebidas alcoólicas, mas fica já apontado um Daiquiri na marina para mais logo. Começo a ficar com a cabeça vermelha porque entretanto veio o sol. Compro um boné. A empregada da loja diz-nos que «downtown Miami sucks» e que devíamos era ir a um centro comercial. Digo que sim, mas penso que não, como é lógico. Penso ainda como é que é possível alguém dar um conselho destes. Ponho o boné e continuamos a nossa volta por Miami. Acho interessante o que vejo. Sinto-me até capaz de viver lá.

A Jennifer quer ir a Little Havana. Pressinto que, estando nós em Miami, cidade repleta de emigrantes cubanos ilegais, aquilo não deve ser bem o que ela está a pensar. O segurança de um edifício a quem ela perguntou se valia a pena lá ir confirmou o meu pressentimento. Evitar. Continuamos antes por ali. E ainda bem, porque vejo pela primeira vez na minha vida uma casa de banho voadora.

Está na hora do Daiquiri. Voltamos à Bayside. A bebida está tão gelada que até dói nas mãos. Recordo a minha viagem de finalistas à Ilha Margarita porque acompanhava as refeições com Daiquiris. Conto à Jennifer alguns episódios dessa viagem. Voltamos para Miami Beach. Espreitamos de novo a praia, mas já é tarde para um banho. Teorizo sobre a questão de ainda estarmos em Fevereiro e, portanto, os dias não serem muito longos. Atravessamos a rua para o hotel e preparamo-nos para o jantar. Sentamo-nos num restaurante cubano que a senhora do Turismo nos recomendou, mas vamo-nos embora antes do empregrado trazer as ementas. Queremos antes ir a uma esplanada. Acabamos num restaurante italiano, também aconselhado pela senhora do Turismo. Médio. Depois do jantar, um passeio e uma Margarita para ajudar a digestão. Má escolha: parece que estou a beber um copo de tequilha pura. E da má. Dou só dois ou três tragos, mas pago os 11 dólares da bebida. Foi um grande dia, mas vou para o hotel meio chateado comigo próprio por não ter dito à empregada que a Margarita estava péssima.

Saturday, February 23, 2008

Miami - Dia 1

Ao contrário do que eu pensava, não pude aceder à internet no hotel em Miami e, por isso, não tive possibilidade de ir escrevendo à medida que as coisas iam acontecendo. Agora, que já estou de volta, o mais certo é não me lembrar de metade do que queria falar. Mesmo assim, vou tentar fazer um resumo das férias.

DIA 1
Táxi para o aeroporto. Penso que ainda bem que escolhemos apanhar o avião no La Guardia porque é mesmo aqui ao pé de casa. Voo: péssimo. Para começar, sai com cerca de uma hora de atraso. O comandante diz que o atraso é devido a uma avaria no reverse que ainda estão a resolver. Constato que, numa situação destas, prefiro que me mintam e que me digam que o problema é no ar condionado. Atrás de mim, durante as três horas de viagem, um bebé a chorar. Sacana do puto. Enquanto posso, alivio o berraceiro com o leitor de MP3. Na aproximação e aterragem obrigam-me a desligar o aparelho e dou por mim a achar mal o raio do miúdo não ser também a pilhas para que alguém o ponha em off. Chegada a Miami. Humidade. Calor. Táxi para Miami Beach. Check-in no hotel. Grande som a bombar no hall. Decoração cuidada. Parece-me bem. Somos informados que temos de pagar mais 10 dólares por dia por pessoa pelo spoil me plan, um programa não opcional que inclui uma happy hour no bar, acesso a cadeiras desdobráveis na piscina, pequeno-almoço, jornal no quarto todas as manhãs e mais uma data de coisas, a maioria delas enumeradas na lista de ofertas incluídas no pacote que comprámos. Roubalheira completa. Discussão com o recepcionista. «Têm de pagar, é obrigatório». «Isso é que era bom! Não pagamos». Meia hora depois, lá recebemos a chave do quarto depois de obrigarmos o recepcionista a assinar um papel a dizer que não aceitamos as condições do spoil me plan, ou melhor, do fuck me plan - que é como passei a chamar àquele esquema sombrio para enganar pessoas. Digo-lhe que se é para roubar, pelo menos tenham a coragem de me atacar com uma pistola. Ele ri-se. Concorda comigo, mas não é ele que manda. Pomos as malas no quarto e saimos porque já é tarde e estamos com fome. Andamos bastante até chegar a South Beach. Jantamos num restaurante na Espanola Way. Bebo duas ou três Frozen Margaritas e sinto-me já meio tonto. Digo que é da viagem de avião, para disfarçar. O sacana do puto. Fico a pensar que, apesar daquela rua fervilhar actividade, não estou no centro da acção. Não estava mesmo, mas só o haveria de comprovar na dia seguinte.