Thursday, February 28, 2008

Miami - Dia 5

Finalmente, a praia. Não é que o dia esteja radioso, mas está suficientemente bom. Atravessamos a rua e procuramos o melhor local para estender a toalha. Temos de andar um bocadinho porque há um prédio em obras e o barulho dos martelos pneumáticos incomoda um pouco. Ahh... na praia em Fevereiro: acho que é a primeira vez que faço isto. Ameaça chover e preparamo-nos para ir embora. Entretanto o sol volta e voltamos a estender-nos na areia. Jogamos beach ball. Dou duas ou três corridas e fico com a língua de fora. A Jennifer goza comigo e eu faço-me de forte apesar de estar sem fôlego. De vez em quando, atiro a bola para longe para descansar enquanto ela a vai buscar. A meio do dia, vamos beber qualquer coisa a uma esplanada que dá para a praia. O barman diz-nos que há uma happy hour das quatro às sete. Duas bebidas pelo preço de uma. Parece-nos bem e fica marcado encontro para mais logo. Voltamos à praia. Falamos sobre onde queremos ir nas nossas próximas férias. Vamos tomar duche ao hotel porque, entretanto, já são cinco da tarde e queremos a aproveitar a happy hour. A Jennifer tinha posto protector solar, mas está com um grande escaldão. Eu não tinha posto protector nenhum, e também estou com um escaldão. Chegamos ao bar já depois das seis. Temos apenas uma hora mas ainda dá tempo para tirar uma foto da praia:

Peço uma Margarita, a Jennifer um Gin Tónico. A minha Margarita não está grande coisa. Lembro-me da lição que aprendi dias atrás e, desta vez, digo ao barman que a bebida podia estar melhor. Ele faz-me sinal para eu ficar descansado porque vai tratar de mim como deve ser. Não sei o que ele faz, mas a próxima Margarita vem muito melhor. Bebemos mais umas quantas coisas depressa antes das sete. Eu peço um hambúrguer que está muito bom. A Jennifer pede um sandes de Mahi-mahi grelhado (acho que é Dourada, em português) que também está muito boa. Passado um bocado ela já não está a dizer coisa com coisa e eu tenho de lhe acabar a bebida. Depois, para dizer a verdade, não me lembro bem do que acontece no resto da noite.

Tuesday, February 26, 2008

Miami - Dia 4

O plano para hoje é ir às Florida Keys. Acordamos relativamente cedo para alugar um carro. A rent-a-car está uma loucura. A rapariga que está a ser atendida pede por favor para acelerarem o processo porque tem um avião para apanhar em menos de três quartos de hora, mas ninguém parece estar muito preocupado com isso. Quando chega à nossa vez, e como não têm mais nenhum carro compacto disponível apesar de termos feito uma reserva no dia anterior, dão-nos este:

A Jennifer fica um bocado chateada porque é ela que vai conduzir e o carro é grande como os cornos, mas eu acho piada. Vejo no mapa que Coral Gables fica a caminho do nosso destino e decidimos ir lá tomar o pequeno-almoço. A viagem demora dez minutos. Lembro-me que no dia anterior tínhamos levado quase duas horas para chegar quase ao mesmo local de transportes públicos. Comemos um bagel ao pequeno-almoço. Comparado com os bagels de Nova Iorque, este é, em boa verdade, um mini-bagel. Prosseguimos para as Florida Keys. Enorme desilusão. Estava à espera de praias e flamingos, mas não vejo nada disso porque há hotéis por todo o lado. Um pouco frustrados, decidimos voltar para trás e ir aos Everglades procurar crocodilos. Como não somos malucos e não queremos perder uma perna, vamos à Aligator Farm e fazemos uma viagem de airboat.

Só por isto, o dia já valeu. De volta a Miami, a Jennifer bebe água de um coco.

Voltamos a South Beach antes das oito para podermos entregar o carro e não nos preocuparmos com estacionamento. Como uma reuben, a rainha das sandes, na minha opinião. A Jennifer escolhe uma sandes de galinha com queijo parmesão, ou algo parecido. Apesar de termos seguido a estratégia delineada no dia anterior em relação aos jantares, acabamos por pagar à mesma 70 dólares.

Monday, February 25, 2008

Miami - Dia 3

Mais um despertar sem sol. Na verdade, está a chover. Ligo o Weather Channel e a previsão para o resto do dia não é a melhor. Céu geralmente muito nebulado com períodos de chuva. Mesmo assim, bem melhor do que em Nova Iorque, reparo, atacada por um nevão dos grandes. Decidimos deixar a visita às Florida Keys para o dia seguinte, até porque acordámos tarde e já não vai render. Perguntamos a um dos funcionários do hotel o que ele nos aconselha a fazer. Ele diz-nos para irmos a Vizcaya, Coconut Grove e Coral Gables. Parece que sabe o que está a dizer e, por isso, perguntamos também onde podemos encontrar verdadeira comida cubana. Ele fala mal dos restaurantes cubanos da zona turística e indica-nos o caminho para o Latin Café, o restaurante onde os locais vão comer. Gosto da sensação de estar a evitar as tourists traps. No Latin Café, queremos o especial de pequeno-almoço, mas já passou da hora. Paciência. Comemos outra coisa qualquer. Vejo na televisão do café que o Fidel Castro se demitiu. Registo que estou no local certo para ser informado de uma coisa destas, apesar de ninguém parecer ligar muito, diga-se de passagem. Para quem está a ver uma página de história a ser virada, aqueles cubanos estão estranhamente alheados. Um autocarro, um eléctrico e um comboio depois chegamos a Vizcaya. Parece a Quinta da Regaleira, em Sintra. É bonito, e tudo, mas não é o que me apetece ver. Procuro no mapa como ir dali para Coconut Grove. Parece-me que dá para apanhar um autocarro, mas não tenho a certeza. Peço indicações a um senhor que tem um macaco no nariz e ele diz que temos de ir para a paragem do outro lado da estrada e que o autocarro deve passar dali a 10 minutos. Esperamos bem mais de meia hora. Entretenho-me a dizer «Olha o Horatio!», sempre que vejo um Hummer a passar, mas sei bem que não é ele. O Horatio Cane é uma personagem de ficção do CSI: Miami e aqueles Hummers são bem reais. O autocarro acaba por vir. Coconut Grove é uma desilusão ainda maior do que Vizcaya. Nada para ver. Damos a volta àquilo. Começa a chover. Entramos num a loja de surf e perguntamos se vale a pena irmos a Coral Gables. O empregado pergunta se estamos de carro. Respondemos que não. Ele abana a cabeça e diz que andar em Miami nos transportes públicos é a pior coisa que se pode fazer. Eu já tinha percebido, por acaso. Quando estamos a discutir o que fazer, vemos um autocarro e nem pensamos duas vezes: Coral Gables que se lixe! Vamos mas é voltar para Miami Beach. Temos de sair no centro de Miami para apanharmos outro autocarro. A paragem é algo sombria. O mesmo gajo vem-me pedir dinheiro três ou quatro vezes. As drogas lixam mesmo a cabeça a uma pessoa. Vamos para a Ocean Drive e combinamos ir jantar com uma amiga da Jennifer que também está a passar uns dias em Miami. Enquanto esperamos por ela, admiro os famosos edifícios art deco que são a imagem de marca de South Beach. Lamento não ter comigo a máquina fotográfica. A amiga da Jennifer chega e acabamos todos num restaurante que está com 50% de desconto na comida. Mais tarde, chega uma amiga da amiga. Que sorte a dela! Vai passar seis meses a viajar pela América Latina. Procuro saber como é que ela consegue fazer isso. Não trabalha? É milionária? Percebo que, no fundo, o que é preciso mesmo é querer. Depois do jantar elas vão ao cinema e eu e a Jennifer vamos procurar uma boa sobremesa. Pelo caminho, tecemos considerações sobre a comida em Miami. Bem pior do que em Nova Iorque, sem dúvida. Não é que seja má, mas, por aquilo que andamos a pagar, era de esperar bem melhor. Decidimos, por isso, que não vale a pena estar a gastar 70 ou 80 dólares por jantar e mudamos de estratégia: passar a comer sandes e gastar o dinheiro em bebida. Celebramos a decisão com um bolo de chocolate. Ainda é mais ou menos cedo, mas estamos de rastos. Tantos autocarros e comboios deram cabo de nós. No caminho de volta ao hotel, combinamos dizer ao funcionário que nos sugeriu o intinerário para o dia que gostámos imenso de tudo o que vimos, apesar de, na realidade, isso ser mentira. Não estamos é com paciência para grandes explicações.

Sunday, February 24, 2008

Miami - Dia 2

O dia começa sem sol. Espreitamos a praia, mas não está tempo para ir. Talvez mais tarde. Vamos antes ao Turismo para saber o que há para ver e fazer. A senhora dá-me uma montanha de papéis e folhetos. Meia floresta abatida, no mínimo. Diz-nos para irmos a museus. Não. Museus tenho eu com fartura em Nova Iorque. Decidimos ir antes a downtown Miami. Antes de apanhar o autocarro, pequeno-almoço no Van Dyke Cafe, na Lincoln Street, uma das principais ruas de South Beach. Grande sessão de people watching. Depois, em Miami, primeira paragem na Bayside.

Ainda é cedo para bebidas alcoólicas, mas fica já apontado um Daiquiri na marina para mais logo. Começo a ficar com a cabeça vermelha porque entretanto veio o sol. Compro um boné. A empregada da loja diz-nos que «downtown Miami sucks» e que devíamos era ir a um centro comercial. Digo que sim, mas penso que não, como é lógico. Penso ainda como é que é possível alguém dar um conselho destes. Ponho o boné e continuamos a nossa volta por Miami. Acho interessante o que vejo. Sinto-me até capaz de viver lá.

A Jennifer quer ir a Little Havana. Pressinto que, estando nós em Miami, cidade repleta de emigrantes cubanos ilegais, aquilo não deve ser bem o que ela está a pensar. O segurança de um edifício a quem ela perguntou se valia a pena lá ir confirmou o meu pressentimento. Evitar. Continuamos antes por ali. E ainda bem, porque vejo pela primeira vez na minha vida uma casa de banho voadora.

Está na hora do Daiquiri. Voltamos à Bayside. A bebida está tão gelada que até dói nas mãos. Recordo a minha viagem de finalistas à Ilha Margarita porque acompanhava as refeições com Daiquiris. Conto à Jennifer alguns episódios dessa viagem. Voltamos para Miami Beach. Espreitamos de novo a praia, mas já é tarde para um banho. Teorizo sobre a questão de ainda estarmos em Fevereiro e, portanto, os dias não serem muito longos. Atravessamos a rua para o hotel e preparamo-nos para o jantar. Sentamo-nos num restaurante cubano que a senhora do Turismo nos recomendou, mas vamo-nos embora antes do empregrado trazer as ementas. Queremos antes ir a uma esplanada. Acabamos num restaurante italiano, também aconselhado pela senhora do Turismo. Médio. Depois do jantar, um passeio e uma Margarita para ajudar a digestão. Má escolha: parece que estou a beber um copo de tequilha pura. E da má. Dou só dois ou três tragos, mas pago os 11 dólares da bebida. Foi um grande dia, mas vou para o hotel meio chateado comigo próprio por não ter dito à empregada que a Margarita estava péssima.

Saturday, February 23, 2008

Miami - Dia 1

Ao contrário do que eu pensava, não pude aceder à internet no hotel em Miami e, por isso, não tive possibilidade de ir escrevendo à medida que as coisas iam acontecendo. Agora, que já estou de volta, o mais certo é não me lembrar de metade do que queria falar. Mesmo assim, vou tentar fazer um resumo das férias.

DIA 1
Táxi para o aeroporto. Penso que ainda bem que escolhemos apanhar o avião no La Guardia porque é mesmo aqui ao pé de casa. Voo: péssimo. Para começar, sai com cerca de uma hora de atraso. O comandante diz que o atraso é devido a uma avaria no reverse que ainda estão a resolver. Constato que, numa situação destas, prefiro que me mintam e que me digam que o problema é no ar condionado. Atrás de mim, durante as três horas de viagem, um bebé a chorar. Sacana do puto. Enquanto posso, alivio o berraceiro com o leitor de MP3. Na aproximação e aterragem obrigam-me a desligar o aparelho e dou por mim a achar mal o raio do miúdo não ser também a pilhas para que alguém o ponha em off. Chegada a Miami. Humidade. Calor. Táxi para Miami Beach. Check-in no hotel. Grande som a bombar no hall. Decoração cuidada. Parece-me bem. Somos informados que temos de pagar mais 10 dólares por dia por pessoa pelo spoil me plan, um programa não opcional que inclui uma happy hour no bar, acesso a cadeiras desdobráveis na piscina, pequeno-almoço, jornal no quarto todas as manhãs e mais uma data de coisas, a maioria delas enumeradas na lista de ofertas incluídas no pacote que comprámos. Roubalheira completa. Discussão com o recepcionista. «Têm de pagar, é obrigatório». «Isso é que era bom! Não pagamos». Meia hora depois, lá recebemos a chave do quarto depois de obrigarmos o recepcionista a assinar um papel a dizer que não aceitamos as condições do spoil me plan, ou melhor, do fuck me plan - que é como passei a chamar àquele esquema sombrio para enganar pessoas. Digo-lhe que se é para roubar, pelo menos tenham a coragem de me atacar com uma pistola. Ele ri-se. Concorda comigo, mas não é ele que manda. Pomos as malas no quarto e saimos porque já é tarde e estamos com fome. Andamos bastante até chegar a South Beach. Jantamos num restaurante na Espanola Way. Bebo duas ou três Frozen Margaritas e sinto-me já meio tonto. Digo que é da viagem de avião, para disfarçar. O sacana do puto. Fico a pensar que, apesar daquela rua fervilhar actividade, não estou no centro da acção. Não estava mesmo, mas só o haveria de comprovar na dia seguinte.

Sunday, February 17, 2008

Boletim Meteorológico (antes de sair para o aeroporto)

Nova Iorque: 1º
Miami Beach: 24º

E Miami ganha com uma vantagem de 23 graus.

Saturday, February 16, 2008

Kohl (2002-2008)

Morreu esta semana, com cancro no pulmão. Eu gostava dele. Dificilmente me vou esquecer da primeira vez que o vi e ele decidiu esticar-se e pôr as patas da frente nos meus ombros. Por momentos, pensei que me fosse despedaçar a cara com uma dentada - não é todos os dias que um rottweiler nos salta para cima -, mas acabou por correr tudo. Mantive-me firme, até porque, mesmo se me quisesse mexer, não conseguia porque estava paralisado de medo.

Sunday, February 10, 2008

Olh'ó passarinho

Comprei uma máquina fotográfica que já é uma coisa jeitosinha:
Já me inscrevi também num curso de fotografia que vai começar em Março. Sempre tive necessidade de compensar o tempo que passo a escever com alguma actividade mais visual e, agora que, por razões evidentes, não posso participar da fase de edição dos nossos projectos televisivos, e não tenho tido motivação para projectos de design gráfico (sem ser em itálico, como explica - e muito bem - a bbug), espero que a fotografia venha a preencher essa lacuna.

Nuno: Miami

Domingo que vem, por esta hora, já devo estar em Miami. A Jennifer tem uma winter break e vamos aproveitar para passar uma semaninha lá em baixo. Porquê Miami? Por diversas razões, das quais saliento esta: enquanto que aqui em Nova Iorque se prevêem 10 graus negativos para hoje à noite, lá estão 27.

Wednesday, February 6, 2008

TV Guide

Não percam hoje a estreia da série «Dexter» na RTP2.

Monday, February 4, 2008

Nova tentativa - II

Bem, sempre foi melhor do que o ano passado. Os New York Giants ganharam e, na segunda parte, cheguei a a achar o jogo emocionante. É um facto indesmentível que, numa partida de futebol americano, se vêem manifestações impressionantes de força, coragem e rapidez, mas, quanto a mim, falta a este jogo beleza estética. Apesar disso, é impossível não admirar jogadas como a que virou a superbowl a favor dos Giants, uma jogada em que o quarterback consegue sair miraculosamente do meio de quatro ou cinco adversários e, depois, ainda tem o discernimento de fazer um lançamento longuíssimo para um companheiro de equipa que agarra a bola num número de circo capaz de de fazer corar a mais ágil das contorcionistas chinesas. Vejam só isto:

Sunday, February 3, 2008

Nova tentativa

Hoje é dia de Superbowl. Este ano, uma das equipas que vai jogar é aqui de Nova Iorque, os New York Giants, e pode ser que desta vez, como vou torcer por alguém, consiga achar alguma piada ao futebol americano. Duvido, mas nunca se sabe.

Saturday, February 2, 2008

Comentário a um comentário

Já lá vai o tempo em que sentia cada crítica negativa que me faziam como uma facada certeira num ventrículo. Hoje em dia, por ter o meu trabalho mais exposto, percebi que vai haver sempre gente que não gosta disto ou daquilo, mesmo que eu escreva o texto mais genial do universo. Se até os mestres, como o Seinfeld ou o Ricky Gervais, são alvos de críticas, quem sou eu para estar acima delas?

Contudo, numa altura em que o exercício do «comentário» está ao alcance do click de um rato de computador, é assustadora a facilidade com que algumas pessoas espezinham o trabalho dos outros. Não é por um humorista fazer um sketch com menos piada que pode ser ofendido e apedrejado como se fosse um criminoso no meio de uma praça pública. Os «Incorrigíveis» são, talvez, o melhor exemplo disto. Alguns dos comentários que lá são deixados são tão baixos, tão mesquinhos, tão agressivos que dão que pensar na qualidade das pessoas que andam por aí.

Felizmente, a Criâneo não tem sido alvo de ataques demasiado violentos, talvez porque o nosso trabalho não tem ainda a exposição mediática suficiente para despertar invejas e ódios de estimação. Contudo, à medida que vamos crescendo, é curioso verificar que alguns comentários têm vindo a subir de tom e que o nosso trabalho começa a chegar a outro tipo de pessoas, pessoas como aquela que nos deixou o comentário de que gostava de falar aqui hoje.

O comentário em causa refere-se a um dos vídeos que colocámos no Youtube em jeito de avanço da segunda série do «Edição Extra». Trata-se de um excerto do documentário que vamos apresentar sobre o Santana Lopes em que dobramos uma situação em que ele está a ler cartas e a receber telefonemas dando a entender que essas cartas e esses telefonemas são de fãs do antigo primeiro-ministro. Não vou aqui discutir se o vídeo tem piada ou não. A questão não é essa. O que me preocupa é este comentário:

«estupidez, um politico pode ter vida propria e mulheres, nao tem que ser um nerd como voces que acham que ter mulheres deve ser alvo de gozo»

Isto preocupa-me (e não é por me chamarem de «nerd», porque já me chamaram de coisas bem piores). Não consigo compreender como é que é possível alguém ter ainda esta mentalidade num país supostamente desenvolvido como o nosso. Eu não acho que ter mulheres DEVE ser alvo de gozo; acho é que ter mulheres PODE ser alvo de gozo, como, aliás, qualquer outro assunto pode ser alvo de gozo. Aqui é que reside a diferença. Se o Santana Lopes fosse conhecido por ser um eremita e não ter mulheres, também podíamos escrever um sketch sobre isso e, nesse caso, o que diria o nosso enfurecido espectador? Que era uma estupidez porque um homem pode ser um eremita e não ter mulheres, e que não tem de ser um Martini Boy como nós que achamos que não ter mulheres deve algo de gozo? Escrever um sketch sobre um assunto, faz de mim exactamente o contrário? Se escrever um texto a parodiar o Benfica significa que sou do Sporting? Se fizer uma piada sobre o presidente da república significa que sou monárquico? Se gozar com as fotografias da Floribela na FHM significa que sou homossexual? Se escrever uma piada sobre o Gilberto Madaíl estou a dizer que nunca apanhei uma bebedeira?

Aquele comentário reflecte uma mentalidade retrógada que, de certa maneira, justifica a falta de coragem dos programadores da televisão portuguesa. Se o público pensa desta maneira, como é que os responsáveis pelos vários canais podem apostar no humor?