Monday, April 30, 2007

O update que se impunha fazer

Na sequência do post sobre cereais de pequeno-almoço que coloquei há algumas semanas atrás, gostava hoje de fazer o update da busca que, curiosamente, se mostrou mais difícil do que encontrar um novo apartamento.

Ora, os mais perspicazes já terão deduzido pela utilização do pretérito perfeito na frase anterior que dei a busca por terminada. Foi uma missão espinhosa, sem dúvida, mas penso que finalmente estou em condições de afirmar que encontrei uns cereais de pequeno-almoço satisfatórios - longe da qualidade dos cereais de chocolate do Pingo Doce, mas satisfatórios.

Eis como os consegui encontrar. Depois de mais duas tentativas falhadas...
... decidi que era altura de mudar de estratégia. Comprar embalagens diferentes de cereais semana após semana não estava visivelmente a resultar. Era também evidente que experimentar todas as variedades disponíveis no mercado demoraria, na melhor das hipóteses, uns meses valentes - isto para não mencionar a fortuna enterrada no processo.

Sendo assim, e mesmo sem saber ao certo que nova estratégia pôr em prática, saí para o supermercado convencido de que alguma coisa teria de mudar. Foi então que descobri isto:
Um pack com oito variedades de cereais em embalagens individuais! Os meus olhos não queriam acreditar no que viam: mais uma vez, os americanos pensaram em tudo. Podem não saber como resolver a guerra no Iraque, mas para o problema da selecção de cereais de pequeno-almoço têm a solução ideal.

Avancei destemido para a degustação e, depois de estar perto regurgitar algumas das variedades que faziam parte do pack, encontrei finalmente algo bom:
Cocoa Krispies: para muitos, apenas mais uma variedade de cereais; para mim, o Santo Graal do pequeno-almoço.

Entretanto, nova busca em curso: desodorizante.

Tuesday, April 24, 2007

Banda sonora das últimas semanas

Tenho-me esquecido de actualizar aqui o ando a ouvir e, por isso, hoje vão 4 de uma vez. Para abrir, o magnífico «Must be the Moon» dos !!!. Depois, e apesar de ter ficado algo desanpontado com este último álbum, uma das minhas bandas de eleição, os Arcade Fire com «Let the Car Running». De seguida, levantar o volume para o «Honest Mistake» dos Bravery. Finalmente, para acabar em beleza, «Elephant Gun» dos Beirut.







Não há maneira de aprenderem

Depois daquilo que aconteceu na Universidade da Virgínia, muitos americanos acham que a solução para evitar tragédias do género é dar mais armas às pessoas.

Sunday, April 22, 2007

Conclusões de um fim-de-semana ao sol

Com a chegada do bom tempo, os novaiorquinos rumam aos parques da cidade como se nunca tivessem visto raios de Sol na vida. Nós, como candidatos a new yorkers, não somos excepção. Ontem, sábado, fomos ao Central Park e hoje, como tínhamos ambos trabalho para fazer, agarrámos nos portáteis e fomos para o Astoria Park, um parque aqui em Queens, à beira-rio, com vista para a Roosevelt Island e, mais ao fundo, para o Upper East Side.

Duas conclusões a tirar:

- No meio de centenas a jogar beisebol e largas dezenas a atirar bolas de futebol americano, vi muitas mais pessoas a jogar futebol do que estava à espera: três (portanto, três mais do que o esperado)

- Se uma praia em Portugal no início da época balnear pode ferir a vista dada a brancura do tom de pele de grande parte das pessoas que lá estão, passear pelo Great Lawn do Central Park nesta altura é violência ocular sem precedentes. Aquilo mais parece uma colónia de pinguins albinos de papo para o ar a apanhar sol. São mesmo brancos, os americanos brancos...

Wednesday, April 18, 2007

Edição Extra na SIC Radical

É com grande prazer, orgulho e alguma nostalgia que anuncio que o «Edição Extra» vai chegar à televisão!

Como devem saber, isto que agora conseguimos alcançar é algo que andávamos a perseguir há anos. Nunca desistimos, acreditámos sempre na nossa ideia, investimos tempo e criatividade no nosso blogue e agora, finalmente, conseguimos chegar lá: fazemos parte da nova grelha da SIC Radical.

Como comecei por dizer, sinto um misto complexo de emoções. Farei parte deste projecto, como é evidente, mas a minha colaboração será sempre limitada aos condicionalismos que a distância impõe. Isso deixa-me algo desgostoso, como é fácil de compreender. Mas não estou triste. As coisas são com são e sinto-me muito bem onde estou agora.

Acima de tudo, estou mais uma vez orgulhoso da Criâneo. Ao Bruno e ao Dionísio - e também a mim, porque não? - muitos parabéns.

Tuesday, April 17, 2007

O meu vício mais recente

Domingo passado choveu a potes o dia inteiro aqui em Nova Iorque. Foi, pois, um daqueles dias ideais para ficar em casa deitado no sofá a ver documentários no Discovery Channel. Papei dois episódios do fantástico «Planet Earth» e um documentário sobre o homem pré-histórico, mas aquilo que realmente me conquistou foi uma série chamada «Man vs Wild».

Não sei se passa aí em Portugal, mas este «Man vs Wild» tornou-se o meu mais recente vício. O conceito é simples: um especialista em técnicas de sobrevivência é lançado nos locais mais inóspitos do planeta, munido apenas de uma faca e um pequeno cantil com água. O objectivo é sobreviver até encontrar civilização. Pelo caminho, ele vai explicando o que se deve fazer e o que não se deve fazer. Por exemplo: enquanto come uma cobra que apanhou na floresta tropical da Costa Rica explica que aquela espécie se pode comer enquanto que aquela outra pode matar um homem em dez minutos, enquanto urina na T-shirt e a enrola na cabeça no meio do deserto explica que aquilo é a melhor maneira de se refrescar, enquanto dá dentadas vigorosas num peixe acabadinho de pescar debaixo de um lago gelado explica que é melhor comê-lo crú porque demoraria muito tempo a fazer fogo naquelas condições, e por aí fora.

É fascinante. No entanto, sempre que vejo esta série, nunca me esqueço disso mesmo: é uma série de televisão. E apesar de saber que grande parte daquilo é simulado, divirto-me imenso a imaginar que, enquanto ele está todo escafiado a comer larvas que catou da carcaça de um javali apodrecido e a beber a água que escorre das paredes de uma gruta enquanto desenrola a T-shirt toda mijada da cabeça, o operador de câmara está provavelmente a deliciar-se com uma sande de frango e a beber uma Coca-Cola.

Sunday, April 15, 2007

Test time

Never say never. That’s what they say anyway.
And from my experience, I guess I can see that it’s true.
When I graduated from Edinboro University I broke that rule when I told my family and friends, “I will never go back to college.” Never.
Maybe it had something to do with that human biology class I had to take my last semester in which I had to learn about cells and genetics. I went into the final wondering if I would actually graduate or if I would be back again next semester looking into microscopes and trying to identify different parts of a human cell- which looked nothing like the pictures in my $300 book. All I know is that after four and a half years of expanding my mind with classes in literature, philosophy and history, and learning about things like the process of sewage treatment plants, my little brain was tired. And I didn’t feel any smarter, in fact college had the opposite effect on me.
So, I made that silly promise to myself and moved on with my life.
I was thankful for my college degree over the years as it allowed me to explore teaching English as a Foreign Language while I was living in Portugal. It also helped me get accepted into a teaching fellowship here in New York City.
Now, almost five years later, I am breaking my vow as I prepare to go back to college to earn my Master’s degree in education. I don’t even want to think about the detrimental effect learning another degree will have on my brain.
But before I even have my first class, I must take an eight-hour test that has questions ranging from world history to advanced Algebra - not exactly subjects I enjoyed or excelled at in school.
In order to study for the test and hopefully pass it, I went out and bought a book to help me. Within the first 30 pages of the book, I am encouraged to study graphs and charts; get a broad understanding of art, music and architecture; and practice writing essays on general topics. It seemed like a lot to do in my free time and I assumed I had learned about some of these things in college and that I would remember them. How silly of me.
In my practice test, I was unable to describe economic theory and had no idea what the central idea was in one of Shakespeare’s sonnets. And these were only questions one and three. I hadn’t even got to the math section yet. Yikes!
Question 13 asks me how many cucumbers Maria can buy if she has N dollars and three cucumbers can be purchased for $1.50. Well, maybe if she had the right currency I would be able to answer that. But here in America, we use numbers for money, not letters. Surprisingly enough, that answer was not represented in choices A through D.
As the weeks went by and I continued to study for my exam, I not only realized that it was impossible to study for an exam of this nature, but I became angry with the idea that I had to take this sort of exam. Ninety percent of the test was testing me on things I hadn’t needed to know in all of my 28 years of life in two different countries and two different professions. What did it really say about my intelligence if Shakespeare’s sonnets meant something different to me than the world of academia? And do I really need Algebra to go shopping? If Maria bought too many cucumbers with her N dollars, couldn’t she just ask the cashier to take one off of her bill?
In any case, I am not against learning how to be a well-rounded person. I am sure my life would be easier if I could figure out how many pairs of shoes I could buy with my N dollars. And I am sure I would be a better writer if my knowledge of Shakespeare went beyond, "To be or not to be,” which I first heard on Sesame Street as I was learning the letter "B."
I have accepted the fact I might not pass this very important exam, and perhaps I will have to endure another eight grueling hours of test-taking. If that happens, I guess I am paying for all the times in school, when my high school English teacher was going on and on about iambic pentameter and I thought, I will never need this in real life. Or when I thought in college, if I can just pass this finite math class I will never need to know how to do this stuff ever again.
Never say never.

Ah, sim? Não sabia...

Nós, os europeus, temos imensas ideias feitas sobre os americanos. Que são gordos, que são incultos, que compram sempre tudo em embalagens de tamanho industrial, e por aí fora. Algumas serão verdade, outras nem por isso. Mas o contrário também se verifica: os americanos têm igual quantidade de ideias feitas sobre os europeus. Que são preguiçosos, que não tomam duche, que as mulheres não se depilam e também por aí fora.

No entanto, há poucos dias, ouvi uma que não conhecia. Foi aqui num café ao pé de casa - um café apelidado de «europeu». Estava na zona dos W.C., a tentar perceber qual deles era a dos homens, quando alguém, apercebendo-se do meu problema, me explica: «Hey, man, you can use either one. That's why this place is called european. They use the same bathroom there for men and women».

E eu: «Oh, yeah? It's curious... I'm european and never saw such a thing.»

E ele: «Ah...»

Wednesday, April 11, 2007

Duche com personalidade

Sempre considerei que o chuveiro é uma das partes mais importantes de uma casa. Penso até que, ao arrendar ou comprar um apartamento, devia ser permitido ao interessado tomar um duche para experimentar. Caso contrário, é um risco. É um tiro no escuro. Quem é que gosta de morar numa casa que tenha um duche frouxo, sem pressão? Ninguém.

Eu, pelo menos, não. Eu gosto de chuveiros vigorosos, daqueles que chegam a magoar tal é a pressão com que esguicham água.

Fiquei, pois, aliviado e radiante quando tomei duche pela primeira vez na minha casa nova: em termos de pressão, o meu chuveiro não fica nada a dever ao famoso Commando 450 que o Seinfeld e o Kramer tiveram de instalar nos seus apartamentos para resolver um problema de falta de potência:



Bom, voltando ao meu caso específico, no que toca a pressão estou bem servido. O problema é que o meu duche tem uma personalidade própria. Tanto está à temperatura desejada, como, de um instante para outro, sem qualquer justificação, fica a escaldar. Aquilo é como raios de Sol em forma líquida disparados na minha direcção. E é teimoso, o sacana do duche, porque, mesmo depois de fechar a torneira de água quente, ele continua a jorrar água a temperaturas vulcânicas.

Não sei ao certo o que vou fazer para remediar a situação mas, tratando-se - como penso que se trata - de um problema de personalidade, se calhar o melhor é sentarmo-nos os dois, eu e o duche, e falarmos sobre o assunto.

Sunday, April 8, 2007

Fogo!

Um dos pontos positivos da zona onde moro - Astoria, Queens - é a variedade de restaurantes. Conhecida especialmente pela qualidade dos restaurantes gregos que aqui existem, esta área tem bastante mais para oferecer. Japoneses, mexicanos, brasileiros, chineses, gregos, italianos, marroquinos, indianos, há mesmo restaurantes para todas as ocasiões e para toda e qualquer disposição.

Ontem, por exemplo, fomos a um tailandês - o Thai Pavillion. Com algum receio de que a comida não fosse suficientemente picante - apesar do prato que ela escolheu estar assinalado no menú com duas pimentas - a Jennifer decidiu pedir ao empregado de mesa para que a comida estivesse especialmente condimentada. O empregado ainda perguntou: «Are you sure about that?». E ela: «Yes». Resultado: uma conta dos diabos em cerveja para acalmar a bola de fogo no sistema digestivo.

Saturday, April 7, 2007

Pretend it's someone else

For all of you people. What do you think?

Thursday, April 5, 2007

Crédito bom ou crédito mau

Recebi a primeira conta no meu nome desde que estou aqui nos Estados Unidos, o que significa que passarei a ter um credit report, como uma pessoa crescida.

Este país tem coisas surreais e este credit report é uma delas. No fundo, é um histórico de todas as contas que uma pessoa teve de pagar ao longo da sua vida, onde ficam registados atrasos, falta de pagamentos, e qualquer outra anomalia que possa ter acontecido. No credit report entram contas de serviços, pagamentos de cartões de crédito, mensalidades de empréstimos, e por aí fora. E se, por acaso, alguém paga uma conta um dia depois do prazo, passa a ter bad credit e isso pode significar que, por exemplo, não consegue arrendar uma casa ou que um banco não lhe autorize um empréstimo.

Está lá tudo. Preto no branco. Uma pessoa tem bom crédito ou mau crédito (é um pouco como o colesterol). E é uma cruz que se tem de carregar para o resto da vida ou, pelo menos, durante uns anos acrescentados. Isto, claro, se não se recorrer a uma empresa de «limpeza de mau crédito». É um conceito fascinante, este... Por aquilo que posso perceber, há empresas cujo serviço é «limpar» credit reports. Não faço ideia como isto é feito, nem quanto custa, mas suponho que não seja barato. Quer isto dizer o quê? Que se pode pagar para deixar de ser caloteiro. É o capitalismo ao seu melhor nível.

Monday, April 2, 2007

Very delicious or not very delicious?

My students, my latest students, and my favorite group so far, are Korean, French, Brazilian, Turkish, Swiss and Italian.
They all get along pretty well, and like to pick on each other. Sometimes I can't help myself, and laugh at them too.
For instance, my Turkish student, Ali, would ask me to check his homework and would ask, "Teacher, true?" Instead of "Is this correct?" He was also famous for saying, "I wear slippers in home, MAYBE?" Meaning, "Can I wear slippers at home?" He was also known for saying, "Thank you very much" after every question I answered.
My French student, Mathieu, who is young and wants to party mostly, always says either "yeah, yeah, yeah" or "no, no, no" with his very French accent and sounding bored the whole time.
My Brazilian student, Jose, would always announce to the class "No good" when he would miss a lot of the questions for homework. Or would bluntly tell me, "No understand" when he just didn't get it.
But the best is what my Korean students say. They have two categories of American food, "Very delicious" or "Not very delicious." I sat with them in a cafe and laughed when two girls passed a crab salad wrap back and forth, one who did not like the sandwich and one who was willing to try it. "Delicious or not very delicious?" the one asked. "Not very delicious," said the other while she made a face that said more than "not very delicious." My other student tried a bite of the wrap and confirmed, "Not very delicious."

Sunday, April 1, 2007

Para ricos ou tolos

Comprar mobília em Nova Iorque tem sido bem mais difícil do que eu pensava à partida. Para além do Ikea, parece não haver nenhuma outra grande loja de mobiliário que não seja astronomicamente cara. Isso faz com que a busca tenha de ser efectuada em pequenas lojas espalhadas pela cidade. E há delas às centenas. É como encontrar uma agulha num palheiro, ainda mais porque, para encontrar algo decente, é preciso mergulhar no meio de toneladas de mau gosto.

Entretanto, li num blogue que só os ricos e os idiotas é que compram mobília em Nova Iorque. Isto porque, continuava o autor do blogue, se consegue na rua encontrar tudo o que se precisa para mobilar uma casa. Não deixa de ser verdade. Há um dia por semana em que as pessoas podem deixar no passeio peças de mobília e electrodomésticos para serem recolhidos pela câmara, e já por várias vezes vi sofás, cadeiras e outros objectos que não me importava de levar para casa. Muita gente faz isso. Lixo para uns, luxo para outros. É tudo uma questão de reciclagem. O problema é que o lixo não aceita encomendas. «Olhe, era uma mesa de café e um guarda-fato, por favor». Não funciona assim, e não me apetece esperar até ao dia em que algum vizinho se decida livrar de alguma coisa que eu preciso.

Há outras opções. As Thrift Shops são uma delas. São lojas que vendem material em segunda-mão cujo lucro reverte, normalmente, a favor de instituições de solidariedade social. Existem também os Flea Markets. Este fim-de-semana, por exemplo, fui à famosa Annex Antique Fair and Flea Market. Desilusão total: a Feira da Ladra põe aquilo a um canto. Outra opção, claro, é a Craigslist, um site em que qualquer pessoa pode pôr o que quiser à venda. A Craigslist começou como um pequeno site de espírito comunitário, mas hoje em dia é algo muito, muito grande. Foi lá que encontrámos o nosso apartamento, foi lá que comprámos o nosso microondas por 25 dólares (e ainda trouxemos uma torradeira de bónus por 5 dólares), mas, com mobília, não temos tido sorte. Até agora, não vimos nada que nos interessasse.

Por isso, deixem-me desabafar: epá, tragam-me a Habitat! Ou mesmo a Moviflor. É que, não é por nada, mas estou a ficar farto de comer em cima do caixote da televisão.