Sunday, June 1, 2008

Outro final de temporada e, já agora, considerações sobre as diferenças entre a produção televisiva em Portugal e nos Estados Unidos

Continuando ainda a falar de programas de televisão, quinta-feira terminou aqui a quarta temporada de uma série que, apesar de não chegar aos calcanhares do «Edição Extra», parece que tem meia-dúzia de fãs pelo mundo fora. Falo, é claro, do «Lost». Esta quarta temporada, que terminou com um episódio especial que mais parece um filme de acção de Hollywood, é, acho eu, a mais fraca até ao momento. Deu-me a impressão que, em vez de catorze episódios, o enredo podia ter sido compactado em seis ou sete, e ainda ficava a sobrar tempo. Contudo, e apesar disso, continuo fiel, que mais não seja porque uma das últimas cenas da temporada é passada ao som do «Gauge Your Way» dos Pixies, e uma série que coloca uma música deste calibre na banda sonora merece o meu apoio incondicional. Para além disso, a linha narrativa deixada em aberto para a quinta temporada é de deixar água na boca.

Já agora, e porque não tenho paciência para iniciar um post separado, quero aproveitar o facto de estar a falar de televisão para abordar uma das diferenças entre a produção televisiva nos Estados Unidos e em Portugal: o orçamento. Não faço ideia de quanto custa um episódio do «Lost», mas sei que o «Carnivale», uma série que nem sequer passava em canal aberto, mas sim na HBO - um canal por assinatura -, tinha um custo de quatro milhões de dólares por episódio. E digo «tinha» porque, entretanto, a série foi cancelada já que, devido às audiências não serem as desejadas, a direcção do canal propôs uma redução para dois milhões de dólares por episódio e a produção não aceitou o corte. Dois milhões de dólares! Em Portugal, nem sequer um filme tem orçamentos destes, muito menos um episódio de uma série de televisão.

Se me dessem dois milhões de dólares para produzir um episódio acho que nem sequer saberia onde os gastar, mas a verdade é que, nos Estados Unidos, isso desaparece num instante porque toda a gente envolvida numa produção audiovisual é bem paga. Dou um exemplo: os actores que fazem as principais vozes dos «Simpsons» recebem trezentos e sessenta mil dólares por episódio (e estão em greve porque querem ser aumentados para meio milhão).

É claro que, com tanto dinheiro disponível, se chegam a cometer verdadeiros desperdícios. Acho que o melhor exemplo disso é aquela história do Jean Piere-Jeunet sobre as diferenças que encontrou entre realizar o «Delicatessen» e o «Alien 4». Em ambos os projectos, conta ele, era preciso uma aranha para uma das cenas. No «Delicatessen», uma produção independente francesa, ele próprio trouxe uma aranha que encontrou no sótão da sua casa; no «Alien 4», um blockbuster de Hollywood, teve de escolher entre centenas de aranhas trazidas por um especialista que cobrou uma fortuna.

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