Monday, June 30, 2008

Troca directa

Troquei de aparelho de ar-condicionado com o porteiro do meu prédio. Eu tinha um ar condicionado portátil, tipo isto:

E troquei-o por um normal, daqueles que se instalam nas janelas. Foi um negócio perfeito, daqueles em que todas as partes ficam a ganhar, porque o porteiro, como vive na cave e tem gradeamento nas janelas, não podia instalar convenientemente o ar-condicionado que tinha, e nós detestávamos o nosso por várias razões:

- apesar deste tipo de aparelhos serem rotulados de «portáteis», a sua portabilidade é algo limitada já que é preciso montar um tubo de condensação na janela e, por isso, sempre que queríamos levar o ar-condicionado para outro lado, era preciso desmontar aquilo e levar o tubo atrás;

- a nossa casa é pequena e uma maquineta deste género ocupava espaço precioso e era quase como se tívessemos um robô no canto da sala (a Jennifer até o chamava de Wall-E)

- por fim, e acima de tudo, aquilo não refrigerava com a potência desejada.

Eu avisei o porteiro disto tudo porque, para além de não ser aldrabão, vejo-o quase todos os dias e, por isso, seria estúpido enganá-lo, tanto mais porque é ele que vem cá a casa quando temos algum problema com as canalizações ou outra coisa qualquer, e sabe-se lá o que um porteiro zangado é capaz de fazer. Foi, pois, com todo o conhecimento de causa que ele aceitou fazer a troca. Por mim, tudo bem, até porque eu a Jennifer já tínhamos combinado ir comprar um ar-condicionado normal no fim-de-semana.

Este negócio, para nós, foi ouro sobre azul porque poupámos dinheiro, livrámo-nos do Wall-E e, principalmente, não tivemos de nos preocupar com instalações, já que o porteiro trouxe o aparelho e montou-o na janela. Isto pode parecer um pormenor sem importância mas, para mim, é um ponto fundamental. Não que não fosse capaz de instalar aquilo, hã? Seria, com certeza. O problema é que, tal como há pessoas que têm pânico de tubarões, eu tenho pânico de deixar cair um ar-condicionado em cima da cabeça de alguém. Acho que foi desde que vi aquele episódio do Seinfeld em que o Kramer quer instalar o Commando 8, um ar-condicionado de 12500 B.T.U's, em casa do Jerry e deixa-o cair em cima de alguém que está a passar na rua.

O que interessa é que agora, com o meu ar-condionado novo, mantenho a casa a temperaturas árticas. É de tal maneira que acho que estaria dentro da legalidade, no que a temperaturas mínimas diz respeito, utilizar a minha sala para pendurar carcaças de vacas, como se de uma arca frigorífica se tratasse. Perguntam vocês: mas faz assim tanto calor que precisses disso tudo? Em resposta a essa questão, dou apenas um exemplo: quando começou o calor e eu ainda não tinha o ar-condicionado montado, deixei no armário o pacote de pepitas de chocolate que ponho nos cereais de pequeno (processo que, aliás, já descrevi aqui ao pormenor). Ora, o calor era tanto que, quando fui a ver, as pepitas tinham-se derretido todas e agora o que eu tinha no armário era uma espécie de mousse de chocolate. É esse o tipo de calor que se faz às vezes sentir aqui.

Sunday, June 22, 2008

Algumas fotos

Coloquei online algumas das fotos que tirei nestes últimos tempos (cliquem aqui ou na imagem do menu lateral). Olhando para as imagens como um conjunto, acho que se nota perfeitamente que sou um principiante, quer pelas falhas técnicas visíveis em algumas delas, quer pela falta de consistência, tanto em termos de estilo como de sujeito. Um conjunto de fotos que contém, por exemplo, imagens tão diferentes como um homem a olhar pela janela do MoMA e três pneus alinhados contra uma parede não pode ser considerado coerente e, penso eu, isso demonstra que, por enquanto, fotografo de modo completamente aleatório, sem nenhum conceito a orientar-me a câmara.

Queria também fazer notar, para justificar algumas das fotos, que muitas delas foram tiradas durante o meu curso de fotografia com o objectivo de praticar técnicas específicas, como sobre-exposição (que produz fotos predominante em tons claros e, por isso, mais leves e etéreas), sob-exposição (que, por outro lado, resulta em imagens mais escuras e, supostamente, mais misteriosas e sombrias), diferentes enquadramentos e diferentes técnicas de composição.

Thursday, June 19, 2008

Depois de escrever este post, percebi que só o facto de o estar a escrever foi uma contradição ao seu contéudo

Eu sei que há para aí muita gente que diz que se sofre mais com os jogos de selecção quando se está à distância, mas, agora que estou à distância, devo dizer que isso é treta. Não se sofre mais coisíssima nenhuma. Pelo contrário. Sofre-se até bem menos. Durante o jogo propriamente dito é a mesma coisa, mas depois, quando o jogo acaba e se por acaso perdemos, como aconteceu frente à Alemanha, o grau de sofrimento é bem inferior porque, se quisermos, podemos desligar por completo e esquecer até que houve jogo. Não levamos com o rescaldo do jogo nos noticiários, não lemos sobre o jogo nos jornais, não falamos sobre o jogo nos cafés. Se não formos à internet, é como se nada tivesse acontecido e podemos prosseguir com a nossa vida. No meu caso, por exemplo, decidi ir à lavar roupa à laundromat. Já que estava mal disposto, pelo menos fui executar uma das tarefas que mais detesto e que, por si só, me põe mal disposto. Dessa forma, as duas más disposições diluíram-se uma na noutra, evitando uma má disposição exclusiva provocada por apenas um dos motivos.

Monday, June 16, 2008

A ideia era ir ver os Vampire Weekend

Sábado à tarde, dia de calor, concerto à borla dos Vampire Weekend no Central Park? É claro que era de ir. A fila, como seria de esperar, começava à porta do Summer Stage, na 72nd Street, e ziguezaveava por entre árvores pelos menos uns dez ou quinze quarteirões. Para aí um quilómetro e meio à vontade de hipsters alinhados à espera de entrar no concerto, ou melhor, de wannabee hispters, já que quem é verdadeiramente hip não se mistura com as massas daquela maneira; quem é verdadeiramente hip não vai a espectáculos gratuitos, mas sim a eventos alternativos ultra-secretos divulgados por canais de comunicação a que só os hipsters têm acesso; quem é verdadeiramente hip já não gosta dos Vampire Weekend porque eles já são demasiado mainstream; quem é verdadeiramente hip viu um um concerto dos Vampire Weekend há um ano atrás «num pequeno bar em Brooklyn» quando ainda ninguém os conhecia.

Seja como for, e fossem elas quem fossem, a verdade é que estavam ali milhares de pessoas para entrar no concerto, circunstância justificada pelo facto de estar em questão aquela que é, de longe, a banda sensação de 2008. E não quero com isto dizer que ache eles sejam extraordinários. Gosto deles, admito que sim, mas neste particular, o pseudo-entendido que estava a atrás de nós a desbobinar ideias feitas sobre música decalcadas da última edição da Rolling Stone e que pertence àquele grupo de pessoas que dizem que o seu álbum preferido dos Radiohead é o Kid A, tinha razão: é curioso como estes fenómenos são criados. Basta um crítico qualquer a quem os amantes de música dão ouvidos dizer «este ano, estes gajos é que são bons» e pronto: está lançado o fenónemo. De um dia para o outro começam a vender discos como se fossem pães quentes, começam a dar entrevistas e aparecem em tudo o que é sítio, até que - e este é o sinal definitivo de que estão mesmo a ter sucesso - os hipsters que gostavam deles antes, decidem deixar de gostar porque já não é cool, e, ao invés, preferem comprar um dos cinquenta CD's exclusivos que a nova banda que ninguém conhece gravou numa cave no SoHo com um daqueles órgãos Casio que encontraram no lixo em sinal de protesto contra a opressão e isso.

Bom, estava eu aqui a querer contar como foi o concerto e, ao olhar para cima, reparo que tenho dois parágrafos recheado de dissertações sobre o funcionamento da cultura indie e, por enquanto, acção... nada. Voltando então à tarde de sábado, estava um belo dia, lembram-se disso? Boa, porque esse dado é importante para se perceber a dimensão pré-apocalíptica da mudança climatérica que viria a verificar-se. Eu já vi muito dia de sol a transformar-se em aguaceiro, mas nada como aquilo. Por acaso, até começou suavemente, como que em jeito de aviso. Uns pingos aqui, outros ali, nada de mais. Depois... a monção. Não estávamos na Índia, bem sei, mas não tenho outra palavra para descrever a quantidade de água que começou a cair. Foi quase como se alguém decidisse construir uma Barragem do Alqueva por cima do Central Park e abrir as comportas naquele momento, tudo isto acompanhado por uma trovoada medonha que parecia estar a rebentar a poucos metros de distância.

Em menos de meio minuto estávamos a pingar como se tivéssemos mergulhado com roupa e tudo no lago ali ao lado. «São burros! Porque é que não se foram embora?», exclamam e perguntam vocês. Não porque fizéssemos assim tanta questão em ver os Vampire Weekend. Isso é garantido. A questão é que ficámos tão encharcados em tão pouco tempo que, agora, nos parecia estúpido irmo-nos embora. Mais estúpido do que ficar, quero eu dizer. Por isso, aguentámos heroicamente até os milhares de resistentes começarem a dispersar e a palavra começar a viajar à velocidade de luz desde desde o início até ao final da fila por entre ahs e ohs de frustração e descontentamento: «Fecharam os portões! Não cabe mais ninguém!».

No metro para casa, a tremer de frio por causa do ar condicionado a congelar-me a T-shirt e os calções colados ao corpo, não estava triste nem frustrado, mas passou-me pela cabeça que se um raio acertasse em cheio do palco e electrocutasse uns quantos, assim uma coisa ligeira, nada de mortes, nem nada disso, eu até ia achar engraçado.

Wednesday, June 11, 2008

O roubo - Parte 1

Eu a Jennifer fomos roubados. Não como antigamente. Ninguém nos atacou com uma faca ou ameaçou espetar-nos uma seringa infectada com alguma doença fatal no pescoço. O que nos aconteceu foi algo bem mais sofisticado, uma daquelas coisas de que se ouve falar, mas que se pensa que só acontecem aos outros: alguém teve acesso aos dados de um dos nossos cartões multibanco e andou para aí a gastar o nosso dinheiro a torto e a direito. O cartão esteve sempre connosco, mas, pelos vistos, alguém fez uma cópia e descobriu o PIN, porque a verdade é que, contas feitas, foram quase mil dólares que nos desviaram numa semana. E foi uma sorte a Jennifer ontem ter tido um daqueles pressentimentos sem explicação e ter-me pedido para ir à net ver se estava tudo bem com a conta. Se não fosse isso, tinham roubado muito mais, com certeza.

O curioso é que as transacções fraudulentas foram sempre efectuadas em bombas de gasolina. Eu sei que a gasolina está cara, mas gastar noventa ou cem dólares numa bomba de gasolina todos os dias parece-me estranho, a não ser que o filho da p#$% do ladrão tenha uma frota de autocarros ou ande a conduzir pela cidade um daquelas camiões que fazem cimento.

Bom, é claro que a primeira coisa que fizemos foi cancelar o cartão. O segundo passo foi irmos hoje ao banco para saber o que fazer a seguir. A funcionária que nos recebeu - impecável, por acaso - disse-nos que muita gente tem tido o mesmo problema, o que me leva a perguntar o seguinte: e o banco não faz nada? Não devia haver um sistema qualquer para detectar fraudes deste género? Não estão preocupados com o facto de haver para aí gente que - nem sei bem como - consegue ter acesso aos dados dos cartões multibancos dos seus clientes? Eu não sou polícia, nem muito o Grissom do CSI, mas há aqui um padrão evidente, tanto mais que todas queixas recebidas até ao momento envolvem débitos fraudulentos em bombas de gasolina na zona da Jamaica, aqui em Queens.

Aparentemente, o banco vai restituir-nos o valor desviado da conta depois de investigar o caso. Temos, para já, de escrever uma carta a explicar a situação. Desenvolvimentos aqui no blogue, à medida que forem acontecendo. Parece-me que isto vai ser uma novela com muitas partes.

Tuesday, June 10, 2008

Aceitam-se apostas

É incrível como o Barack Obama conseguiu vencer as primárias do Partido Democrata contra o prestígio e a poderosa máquina eleitoral dos Clintons. A Hillary não queria, mas lá teve de aceitar a derrota, porque percebeu que já era ridículo ser a única pessoa que ainda pensava que ela podia ganhar. Contudo, e pela resiliência demonstrada em chegar à presidência contra tudo e contra todos, há uma pergunta que se impõe: se o Obama escolher a Hillary para vice-presidente, como é que ela o vai despachar para ser ela a governar? A Jennifer acha que ela o atira para debaixo de um comboio; eu cá aposto que o sufoca com uma almofada e ainda deixa ao lado dele o vestido azul da Monica Lewinski para a incriminar.

Wednesday, June 4, 2008

Hóquei no gelo: a análise

Depois de já ter falado aqui de beisebol, de futebol americano e de basquetebol, chega agora a vez de abordar outro desporto que os americanos apreciam bastante: o hóquei no gelo. Isto porque a equipa da Jennifer, os Pittsburgh Penguins, chegou à final dos playoffs e disputou a Stanley Cup, o mais prestigiado troféu da modalidade, dando-me, assim, e apesar de terem perdido, a oportunidade de ver alguns jogos com a emoção que eles merecem.

Como é que funciona então o hóquei no gelo? Essencialmente, é assim: vão todos a patinar para um lado e embrulham-se uns com os outros; vão todos a patinar para o outro e embrulham-se uns com os outros. Se, em vez de gelo, o recinto fosse de terra, só viam nuvens de poeira, ora num lado, ora no outro, como nos desenhos animados. O que torna o jogo interessante é que isto acontece tudo a um ritmo supersónico. O hóquei no gelo é jogado a uma velocidade tão vertiginosa que muitas vezes nem em câmara lenta consigo perceber o que aconteceu. Distinguir para onde o disco foi então, nem se fala. Só para quem tem olho de lince. Aliás, só percebo que é golo quando vejo jogadores aos abraços e os comentadores aos berros.

As semelhanças entre hóquei no gelo e hóquei em patins são nenhumas. Para além de se poder pontapear o disco com os patins ou mesmo controlá-lo com as mãos, no hóquei no gelo vale tudo menos tirar olhos. Empurrar os adversários, atirá-los contra o vidro de protecção do ringue, ir a patinar a toda a velocidade e atropelá-los sem piedade ao ponto de os deixar inconscientes, tudo isto é permitido, como se pode ver neste elucidativo vídeo (chamo especial atenção para o número 5 da contragem decrescente):



Com jogadas desta natureza, não admira que haja pancadaria da séria. Segundo as regras do hóquei no gelo, as lutas físicas são ilegais, mas, por tradição, os árbitros deixam que elas aconteçam. Sendo assim, e com um bocado de sorte, é possível assistir a cenas destas:



Depois de ver isto, não consigo deixar de pensar no Petit. Ia dar um grande jogador de hóquei no gelo, sem dúvida nenhuma. Azar o dele ter nascido num país em que se joga futebol porque, por aquilo que se conhece do seu comportamento em campo, ia sentir-se muito melhor num desporto em que a linha entre agressividade competitiva e violência é muito ténue. Muito ténue, mesmo.

2 de Junho

Foi anteotem: o dia em que tirei o ar-condicionado da dispensa este ano. Por aqui, já não se aguenta o calor sem recurso a sistemas de refrigeração electrónicos.

Monday, June 2, 2008

Devias ter visto aquilo, Gabriel Alves

Hoje, quase dois anos depois, voltei a dar um pontapé numa bola de futebol. Foi na minha rua. Estavam uns putos mexicanos a dar uns toques e a bola fugiu na minha direcção. Secretamente, enquanto descia a rua, desejei que isso acontecesse. Estava-me a apetecer acariciar um esférico depois de tanto tempo e, claro, não ia começar a correr atrás das crianças para lhes roubar a bola porque eles ainda chamavam os irmãos mais velhos e eu acabava transformado em enchilada ou, pior, em burrito. Sendo assim, quando a redondinha veio direitinha a mim, foi como se os deuses do futebol estivessem comigo. Com a classe de um Rui Costa, dominei a bola no bola no ar, pu-la no chão, e fiz um passe rasgado para a corrida de um dos putos, que ficou a olhar para mim com quem diz «epá, não estava à espera que conseguisses fazer isso porque pensei que fosses americano e estes americanos não percebem nada de futebol, mas tu, por aquilo que estou a ver, não és daqui, com certeza». Por acaso, o domínio e a desmarcação até correram bastante bem, diga-se de passagem. Foi de tal maneira que quase disse que era irmão do Cristiano Ronaldo.

Sunday, June 1, 2008

Outro final de temporada e, já agora, considerações sobre as diferenças entre a produção televisiva em Portugal e nos Estados Unidos

Continuando ainda a falar de programas de televisão, quinta-feira terminou aqui a quarta temporada de uma série que, apesar de não chegar aos calcanhares do «Edição Extra», parece que tem meia-dúzia de fãs pelo mundo fora. Falo, é claro, do «Lost». Esta quarta temporada, que terminou com um episódio especial que mais parece um filme de acção de Hollywood, é, acho eu, a mais fraca até ao momento. Deu-me a impressão que, em vez de catorze episódios, o enredo podia ter sido compactado em seis ou sete, e ainda ficava a sobrar tempo. Contudo, e apesar disso, continuo fiel, que mais não seja porque uma das últimas cenas da temporada é passada ao som do «Gauge Your Way» dos Pixies, e uma série que coloca uma música deste calibre na banda sonora merece o meu apoio incondicional. Para além disso, a linha narrativa deixada em aberto para a quinta temporada é de deixar água na boca.

Já agora, e porque não tenho paciência para iniciar um post separado, quero aproveitar o facto de estar a falar de televisão para abordar uma das diferenças entre a produção televisiva nos Estados Unidos e em Portugal: o orçamento. Não faço ideia de quanto custa um episódio do «Lost», mas sei que o «Carnivale», uma série que nem sequer passava em canal aberto, mas sim na HBO - um canal por assinatura -, tinha um custo de quatro milhões de dólares por episódio. E digo «tinha» porque, entretanto, a série foi cancelada já que, devido às audiências não serem as desejadas, a direcção do canal propôs uma redução para dois milhões de dólares por episódio e a produção não aceitou o corte. Dois milhões de dólares! Em Portugal, nem sequer um filme tem orçamentos destes, muito menos um episódio de uma série de televisão.

Se me dessem dois milhões de dólares para produzir um episódio acho que nem sequer saberia onde os gastar, mas a verdade é que, nos Estados Unidos, isso desaparece num instante porque toda a gente envolvida numa produção audiovisual é bem paga. Dou um exemplo: os actores que fazem as principais vozes dos «Simpsons» recebem trezentos e sessenta mil dólares por episódio (e estão em greve porque querem ser aumentados para meio milhão).

É claro que, com tanto dinheiro disponível, se chegam a cometer verdadeiros desperdícios. Acho que o melhor exemplo disso é aquela história do Jean Piere-Jeunet sobre as diferenças que encontrou entre realizar o «Delicatessen» e o «Alien 4». Em ambos os projectos, conta ele, era preciso uma aranha para uma das cenas. No «Delicatessen», uma produção independente francesa, ele próprio trouxe uma aranha que encontrou no sótão da sua casa; no «Alien 4», um blockbuster de Hollywood, teve de escolher entre centenas de aranhas trazidas por um especialista que cobrou uma fortuna.