Monday, June 18, 2007

Bem sei que nunca se deve dizer nunca, mas, neste caso, é mesmo nunca, nunca, nunca mais

São dez e meia da noite, mais coisa, menos coisa. Há uma semana atrás, por esta altura, estava enfiado dentro de um autocarro há mais de nove horas, e tinha ainda mais duas pela frente antes de chegar a Nova Iorque.

Daqui a Conneuatville, localidade onde vivem os pais da Jennifer, são cerca de não sei quantos quilómetros. É como ir de Lisboa ao Porto e voltar no mesmo dia. De Lisboa a Braga, talvez. Bom, seja como for: de carro são sete horas de viagem, e é isso que interessa. De autocarro, por seu lado, são onze e, se o tempo é mesmo relativo, são onze que valem por cento e onze. Que calvário! Na verdade, e esticando a metáfora biblíca, é preferível fazer uma Via Sacra, já que, pelo menos, sempre se para doze vezes, em vez de ter de se aguentar durante horas para ir à casa-de-banho.

Por falar em casa-de-banho, verdade seja dita que experimentar as instalações sanitárias do autocarro foi um dos pontos altos da viagem de vinda. Fi-lo mais por curiosidade do que por outra coisa qualquer. Para passar o tempo. Queria ver como era. Queria perceber se era possível aquilo ser mais pequeno do que o W.C. dos aviões. E era. Para aí metade, acredite-se ou não. Eu cá não queria acreditar, digo-vos já.

A outra referência que queria fazer em relação a essa viagem diz respeito à mulher que se sentou na minha fila do outro lado do corredor. Mulher, quer dizer... A Jennifer acha que era uma prostituta travesti. Para mim, era uma mulher feia como o raio e, como tal, não olhei muito. Para quê? Pois se era uma mulher feia como o raio! Que razão tinha para olhar? Uma vez basta. Faz-se o diagnóstico estético-visual e, em caso de avaliação negativa, conclui-se que não vale a pena olhar mais e pronto.

Contudo, admitirei uma coisa: pelo canto do olho, cheguei a vislumbrá-la em movimentações algo estranhas ao contexto de um autocarro depois de um homem, também ele de aspecto questionável, se ter sentado ao lado dela. Desculpem: dele. Dela. Epá, não sei. E também não quero pensar muito nisso, para dizer a verdade.

Isso foi na viagem de vinda. A de ida não foi muito melhor. Começou logo mal no terminal de autocarros. Pessoas às carradas, todas elas, ou grande parte delas, para ser mais preciso, a quererem ir para o mesmo sítio que eu. Um inferno na Terra. Entre as pessoas que acabaram dentro do meu autocarro, destaco três, todas elas dignas de argumento de filme, tivesse eu tempo e paciência para me dedicar a uma coisa dessas nesta altura.

Uma dessas pessoas, uma rapariga, tinha a cara completamente espatifada - e isto agora não é para ter piada. Tinha mesmo, como se alguém lhe tivesse batido com violência. Nunca tinha visto tal coisa a não ser na televisão. O curioso é que, apesar disso, a rapariga não parecia muito abatida. Pelo contrário, mostrava-se até algo aliviada. Deu-me a ideia que estava a fugir de algo muito, muito mau e que se sentia leve por isso.

As outras duas pessoas que gostava de referir, também não tinham histórias alegres para contar, parece-me. Era uma mãe e um filho, com uma boa dezena de malas de viagem, mochilas e sacos. Estavam a levar a sua vida para outro lado. A mãe, devastada, explicava à mínima oportunidade a quem quisesse ouvir que nunca mais voltaria ao estado de Nova Iorque porque aqui só há filhos da puta. A certa altura ouvi-a dizer para o filho, e isto tem mesmo de ser em inglês porque em português não tem o mesmo efeito: «Don't worry. I promise that everything is going to work out fine». Isto, desfeita em lágrimas. O filho, um puto de para aí de seis ou sete anos, tinha uma expressão indescritível. Lá no fundo, lia-se tristeza, mas, à superfície, mantinha-se forte, como se fosse o seu papel apoiar a mãe naquela situação.

Bom, histórias com fartura à solta nos autocarros americanos. Se algum dia quiser escrever uma tragédia já sei onde procurar inspiração. Por enquanto, e como tenho trabalhado mais na área da comédia, vou evitá-los até à medida do possível.

1 comment:

Anonymous said...

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