Thursday, March 15, 2007

Afinal acabou por ser mais fácil do que eu estava à espera

Às vezes dou por mim a pensar que está tudo a correr bem de mais e que, apesar de não me lembrar de vender a alma a ninguém, não me admiraria se me batesse um mafarrico qualquer à porta a reclamar por ela.

A mudança decorreu para cá decorreu nas condições perfeitas. Sítio para ficar e trabalho assegurado. Depois, logo nos primeiros dias em NYC, a Jennifer arranjou emprego. Algumas semanas passadas, veio a notícia de que ela conseguira entrar para a New York City Teacher's Fellowship. E agora, meia dúzia de dias depois de começarmos a procurar casa, encontrámos já o apartamento ideal.

Para quem esteja à distância, esta notícia talvez não pareça tão incrível quanto ela na realidade é. Afinal de contas, há pessoas a arrendar apartamentos a toda a hora, certo? A questão é que, aqui em Nova York, arrendar uma casa é um processo normalmente cansativo e super-burocrático. A procura é tanta que os senhorios se dão ao luxo de pedir aos candidatos ao arrendamento extractos bancários e investigações de crédito e de exigir declarações das entidades patronais que digam quanto o candidato ganha por ano. Tudo isto, entenda-se, para escolher a pessoa que mais segurança lhes dê.

Ora, eu a Jennifer - os dois juntos - ganhamos bastante menos do que um ordenado médio em Nova Iorque. Somos, portanto, numa escala nova-iorquina... hã... bem... sim, porque não admiti-lo: uns pelintras. Pensar que alguém aceitaria arrendar-nos um apartamento chegou a parecer-me um devaneio. Ainda mais quando respondemos a um anúncio de um apartamento pertíssimo do metro por apenas 1150 dólares.

Mas respondemos à mesma e fomos lá ver a casa. A funcionária da agência imobiliária - uma miúda talvez mais nova do que eu - abriu-nos a porta e explicou-nos que não nos ia mostrar o apartamento do anúncio, mas sim o dela própria, uma vez que ela morava no mesmo andar e o outro apartamento estava em obras de renovação. Sendo os apartamenos virtualmente idênticos - continuou ela -, ficaríamos com uma melhor ideia se víssemos o dela em vez que uma casa em obras.

Ficámos, desde logo, apaixonados pelo apartamento. Pequeno, mas muito bem dividido e com alguma personalidade, até. Começámos a conversar com a miúda e tal e, pelos vistos, ela gostou de nós para vizinhos. É que, apesar de ter outros candidatos em muito melhores condições do que nós - entre eles, por exemplo, um homem que ganhava mais de 70 mil dólares por ano - ela decidiu convencer a dona do apartamento a escolher-nos a nós.

A Jennifer diz e com razão: personality goes a long way. Mudamo-nos dentro de dias! E reparem: que maior certeza de que o apartamento é baril, do que saber que a funcinária da agência imobiliária mora basicamente na porta ao lado? Se ela decidiu morar ali é porque vale a pena. A não ser, é claro, que seja masoquista. Mas isso é um risco que vou ter de correr.

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