Tuesday, March 13, 2007

Filme mental

Hoje, para entrar no metro, tive de pedir licença a duas miúdas de 12 ou 13 anos que estavam a sair mas que se mantinham à porta a namoriscar com um amigo (atenção que eu sou péssimo a adivinhar idades e, portanto, quando digo «duas miúdas de 12 ou 13 anos», o que quero dizer é que elas podiam ter 9 ou 10 anos que para mim era igual - já se fosse 18 ou 19 acho que era capaz de ver a diferença porque a partir dessa idade já as consigo distinguir melhor).

Era uma coisa inocente, bem entendido, e, por isso, vamos ignorar o facto de serem duas para um. O que interessa para a história é que, quando me sentei, reparei que, à minha frente, estava sentado um homem que olhava para a cena esboçando um sorriso que me pareceu também ele inocente (em contradição, pois, a um eventual sorriso de cariz pedófilo e, consequentemente, pouco apropriado para um post que se quer decente).

O sorriso era inocente, mas não inócuo. Ele tinha uma carga que consegui distinguir claramente. O sorriso daquele homem era um sorriso melancólico, um sorriso que o levava de volta aos tempos em que ele tinha a idade do rapaz que dizia agora adeus às amigas já com o metro em andamento.

A certa altura, o olhar do homem cruzou-se com o meu (isso acontece-me frequentemente porque tenho esta mania de observar as pessoas no metro). Em condições normais, teria desviado depressa o olhar, mas, naquela situação específica, não escondi um sorriso de cumplicidade que, no fundo, queria indicar que eu sabia perfeitamente o que ele estava a pensar.

Todavia, alguns minutos depois, reparei que o sorriso dele não se desmanchava e que, a espaços, o olhar dele continuava a cruzar o meu. Ainda pensei «mau... tu queres ver que...», mas não. Não era nada disso. O que se passava era que, em boa verdade, aquele homem não se estava sequer a rir. Aquela era a expressão natural dele. Não havia nenhum sorriso melancólico, não fora feito nenhum recuo à infância, nenhuma reacção fora despoletada pelo episódio das duas miúdas à porta do metro. Tudo acontecera na minha cabeça.

Percebi então que, talvez, faça filmes a mais e que, algum dia, isso ainda me pode trazer problemas (tipo ser espancado no metro por estar a olhar fixamente para alguém com um ar pensativo).

2 comments:

Simão Pfc Neves said...

Ou receber alguma proposta indecente.

Anonymous said...

Oh Nuno, se calhar a melhor coisa é não olhares fixamente para ninguém...pronto...se calhar é capaz de ser mais sensato e ... mais seguro!
Bjs Rox