Tuesday, January 1, 2008

Sempre foi melhor que os bailes do Coliseu Micaelense*

Em largos períodos da noite, cheguei a pensar que esta ia ser a pior passagem de ano da minha vida. Mas acabou por não ser.

Tratando-se da minha primeira passagem de ano em Nova Iorque, não quis ficar em casa. Sabia também que não queria ir para a Times Square. Ou melhor, parte de mim até tinha gosto em ir, mas quando comecei as ver as reportagens durante a tarde com imagens das ruas já apinhadas de gente e soube que mais de um milhão de pessoas ia lá estar oito ou nove horas de pé à espera que a bola caísse, essa tal parte de mim depressa deu o braço o torcer.

Outra coisa que eu sabia é que não queria uma passagem de ano alternativa, já que o alternativo só ganha valor depois de se experimentar o convencional. E não estou a falar de alternativo, mesmo alternativo, como passar o ano a andar de bicicleta no Central Park, dar um mergulho no Hudson, ou ir para um centro de meditação onde não se podia falar entre as nove e a uma da manhã (a sério... isso existiu mesmo...). Quando falo em alternativo refiro-me, por exemplo, a passar o ano na Brooklyn Bridge - um plano que ainda considerámos e que, muito possivelmente, estará no topo da lista para o reveillon do ano que vem.

Abandonadas então essas hipóteses, restava então encontrar um bar ou discoteca para onde ir. Parece fácil, não parece? Uma cidade do tamanho desta deve ter centenas ou milhares de bares e discotecas, certo? Certo, mas já eram para aí quatro da tarde de 31 de Dezembro e, para além disso, há aquela questão do $$, uma questão que, sendo pertinente por esse mundo fora numa noite em que os preços são inflacionados de tal maneira que até parece que a passagem de ano será a noite do fim-do-mundo e que, portanto, mais vale gastar o nosso dinheiro todo em bebidas e comidas porque os Cavaleiros do Apocalipse não aceitarão suborno para nos poupar do extermínio da humanidade, é ainda mais pertinente numa cidade que é um dos principais destinos turísticos nesta altura do ano.

Uma busca na internet depressa me fez perceber que a coisa ia ser complicada. Um cruzeiro no rio para ver os diversos fogos de artifício que seriam alegremente lançados em vários pontos de Manhattan: 290 dólares por pessoa; uma entrada num bar com cuspidores de fogo e outras atrações do género: 250; um bilhete para um clube de stand-up sem nada incluído a não ser uma cadeira para ver o espectáculo: 140; admissão na maioria dos clubes, bares e discotecas com direito a uma ou duas horas de bar aberto: entre 125 a 250; e por aí fora.

Depois de muito procurar, lá conseguir encontrar um bar que pedia 35 dólares de entrada. Não estava mal, tendo em conta o resto do panorama. Para além disso, o site dizia que o David Bowie já lá tinha ido e, se um bar é bom para o David Bowie, quem sou eu para dizer que não presta?

Quando saí de casa estava, admito, excitado e satisfeito com as perspectivas. A excitação, contudo, durou pouco. Na verdade, durou cerca de cinco minutos, o tempo de chegar ao restaurante onde eu e a Jennifer havíamos combinado com uma amiga dela, de quem eu gosto, e do respectivo namorado, personagem que eu não conhecia, mas que não precisei nem de meio minuto para perceber que se houvesse uma personificação de chato, desinteressante e parvo seria precisamente ele.

Vocês conhecem-me. Sabem bem que eu sou uma pessoa paciente e tudo isso, mas se há uma coisa para que não tenho paciência é ter de passar tempo com alguém de quem não gosto. Ainda tento ser simpático, mas os meus músculos simplesmente não reagem. Quero sorrir, mas as maçãs do rosto mantêm-se petrificadas. Quero dizer uma piada, mas os meus lábios não se mexem. Quero ter a decência de prestar atenção ao que diz o meu interlocutor, mas o meu pescoço teima em rodar sempre na direcção contrária.

Bom, felizmente, e depois de um processo complicado para entrarmos no bar - que implicou alguns três quartos de horas de espera apesar de termos bilhete -, verifiquei com agrado que a música ia ser boa. Isso, para mim, foi como um boost de energia, uma rivitalização dos sentidos como se do sistema de som estivessem a ser lançadas golfadas de Red Bull. Strokes, Blur, Depeche Mode, Queens of the Stone Age, uns toques de hip-hop aqui e ali, algum bom techno à mistura, enfim: estava à curtir. O problema - grande, aliás - era a quantidade de pessoas. Aquilo estava virtualmente a abarrotar, conjutura que, na verdade, se adapta bem ao meu estilo de dança de mãos do bolsos, mas que é incompatível com dançarinos de movimentos mais vigorosos.

E havia alguns desses por lá.

De modo que, com o avanço do álcool nas veias dos convivas, a coisa tornou-se perigosa. Duvido que o moche (não sei se isto se escreve assim - tenho as minhas dúvidas) num concerto dos Cradle of Filth seja tão potencialmente causador de hematomas como aquela pista de dança. Mesmo assim, ainda curti bastante, e acordei hoje com dois desejos de Ano Novo: comprar uma embalagem de pomada Hirudoid e que o namorado da amiga da Jennifer não saiba ler textos em português.

*Explicação para o pessoal do Continente: são bailes de Carnaval e Passagem de Ano em que se tem de vestir smoking e isso.

3 comments:

Anonymous said...

Bom Ano Novo para ti. Foi pena a passagem tão curta por Lx.

Grande abraço e tudo de bom para os 2

Anonymous said...

Bom ano para os dois!!! Foi bom ver-te, pena que a tua estadia tenha sido rápida, não deu para fazermos muito coisa...não faz mal fica para a próxima.
Beijinhos aos dois. Rox

Nuno said...

Obrigado e um grande 2008 para vocês também!