Monday, November 19, 2007

Do, ré, mi

Sábado fui pela primeira vez ao Carnegie Hall (na imagem), uma das mais importantes salas de espectáculo de Nova Iorque. Uma amiga da Jennifer ofereceu-lhe bilhetes para o recital de um pianista russo chamado Denis Matsuev, e nós fomos, movidos mais pela vontade de conhecer o edifício do que propriamente para ouvir o homem. Não é que eu não aprecie uma pianada de vez em quando. Pelo contrário. Vi «O Piano» e tudo. E quando era mais novo até cheguei a ouvir discos do Richard Clayderman, esse monstro da música de elevador que rivaliza ombro a ombro com o Kenny G. ou com a flauta de pan do Rao Kyao.

Bom, seja como for, Denis Matsuev, é, sem dúvida, um génio. E nem me refiro sequer à sua técnica ou talento, porque os meus conhecimentos musicais não são suficientes para avaliar da sua qualidade. Aliás, se ainda fosse preciso provar que sou um ignorante nesse capítulo, bastaria analisar o meu comportamento durante o recital, nomeadamente o cuidado que tive para não ser o primeiro a bater palmas, não fosse eu começar a aplaudir numa pausa, só para descobrir segundos depois que, afinal, não era exactamente o fim da sonata mas apenas uma mudança de andamento. Seria embaraçoso. Mais embaraçoso do que quando o telemóvel de alguém começou a chamar com aquele toque da Nokia, ou quando um velhinho quatro ou cinco filas atrás de mim desatou a tossir de tal maneira que parecia que ia vomitar.

Dizia eu então, e repito agora, que Denis Matsuev é um génio, e essa minha asserção assenta no facto dele ter tocado de cabeça, sem recorrer a pautas nem nada disso. Por um lado, fiquei algo desiludido já que não pude ver ao vivo uma daquelas pessoas que viram as folhas com a música, ocupação que consegue ser ainda mais secundária do que sidekick de super-herói, mas, por outro, observei com admiração a capacidade de memorização do pianista. Decorar peças inteiras de Liszt e Prokoviev não é para qualquer um. Para mim não é, com certeza, que muitas vezes só depois de passar os créditos finais é que me lembro que já tinha visto aquele filme ou que duas semanas depois de ler um livro já não me recordo se foi ou não o mordomo que matou o pobre coitado no primeiro capítulo.

Agora a sério, foi, inquestionavelmente, um grande concerto, e a prová-lo estão os oito ou nove encores que homem fez. De cada vez que ele se sentava para tocar mais qualquer coisa, eu torcia para que fosse o «Moonlight», mas não. Nunca foi. Essa sonata de Beethoven deve ser demasiado fácil para o Denis Matsuev.

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