Monday, December 10, 2007

Sixers 105 - Knicks 77

Vinte e oito pontos de diferença. Do ponto de vista puramente desportivo, a minha ida ao Madison Square Garden foi um fiasco, mas, como expliquei num post anterior, isso já era mais ou menos previsível. Não deixei, por isso, que a derrota vergonhosa afectasse a emoção de entrar pela primeira naquela que é promovida como «the world most famous arena», um slogan que, apesar de bastante presunçoso, reflecte a mística que rodeia este pavilhão.

A primeira sensação que tive ao entrar no recinto e olhar para o court, lá em baixo, foi de alívio. Estava com medo de que não conseguisse enxergar nada por estar demasiado longe, mas depressa verifiquei que a visibilidade era satisfatória. Dava para ver a bola a entrar no cesto, o que, num jogo de basquetebol, já é meio caminho andado para se perceber o que se está a passar.

Pude então, mais descansado, olhar à minha volta e analisar o Madison Square Garden em detalhe. Não sei se foi por estar habituado ao nosso Pavilhão Atlântico, mas o que me saltou à vista foi o facto daquilo parecer um bocado velho - constatação esta suportada pelo facto daquilo ser mesmo velho já que foi construído em 1968. O contraste dos traços arquitectónicos do passado com a tecnologia de ponta dos monitores gigantes que cobrem o recinto é gritante. É um pouco como se alguém colocasse um LCD no Templo de Diana, ou assim.

Quanto à experiência social propriamente dita, já que esta foi também a primeira vez que assisti a um evento desportivo ao vivo aqui nos Estados Unidos, a nota de destaque vai para o facto dos americanos não pararem quietos durante o raio do jogo. Sentam-se, levantam-se para ir ao bar, voltam com copos de dois litros de Coca-Cola, trocam de lugar, dão uma volta ao pavilhão, saem para ir fumar, voltam a sentar-se, vão buscar mais dois litros de Coca-Cola, chamam o vendedor de cachorros-quentes, tiram fotografias, levantam-se outra vez para ir para o raio que os parta, epá... Sosseguem! Sentem-se e vejam a porcaria do jogo, pá! Os jogadores é que têm de se mexer, não são vocês!

Bom, verdade seja dita que o casal que estava à nossa frente não participava desta roda viva, mas só porque deviam ter os dois à volta de 95 anos de idade. O velhinho ainda se levantou por duas vezes, para ir à casa-de-banho mudar as fraldas da incontinência, suponho, já que, quando voltava, movimentava-se com uma assinalável melhoria de movimentos, mas a velhinha nunca abandonou o seu lugar, a não ser logo depois de começar a segunda parte, quando se foi embora em sinal de protesto para com a má exibição da equipa, dizendo, e passo a citar: «They should be ashamed of themselves».

Ao nosso lado estava outro casal, este de mais tenra idade. Tão tenra, aliás, que, segundo a Jennifer, estavam a ter uma discussão conjugal sobre fotografias no MySpace. Não consegui perceber os detalhes da zanga. É pena.

Apesar do que seria possível depreender por esta descrição, foi uma noite inesquecível, que, contudo, por pouco não ia sendo arruinada pela circunstância de ser Kids Night no Madison Square Garden. Significa isso o quê? Que, em vez de cheerleaders, por exemplo, os intervalos e descontos de tempo eram preenchidos por um grupo de crianças a fazer habilidades, ou com jogos parvos em que duas famílias disputavam um prémio através, sobretudo, da ridicularização dos pais e das mães que tinham de competir entre si fazendo corridas em bolas saltitonas ou percorrendo o court de gatas e de costas. Ainda pensei que o prémio fosse uma viagem de sonho, ou um Bentley, ou isso, enfim, qualquer coisa que valesse a pena ser humilhado em frente de milhares de pessoas, mas não: era apenas um vale de compras na loja dos Knicks. Isso é que mesmo amor à equipa, ou então, não ter noção do ridículo. Agora que penso mais nisto, acho que é mais não ter noção do ridículo.

Felizmente, lá apareceram as cheerleaders. Sim, porque um evento desportivo na América sem cheerleaders, não é evento desportivo, não é nada. Ia ter de pedir o meu dinheiro de volta, e isso ia ser chato porque não sou pessoa de devolver coisas.

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